19/05/2021 21h34
O “Dossiê Crítico da Logística da Soja: Em defesa de alternativas à cadeia monocultural”, produzido pela Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (Fase), alerta para o risco de desabastecimento de produtos básicos, como arroz e feijão, além dos conflitos por terra, que estão surgindo por causa do avanço da cultura da soja, de modo especial no Norte do país.
Fonte: Edelberto Behs/Revista IHU On-Line
“O estrangulamento da agricultura familiar tem provocado a fragilização dos sistemas tradicionais de cultivo desses alimentos”, frisa o coautor do dossiê e professor da Universidade do Recôncavo da Bahia, Sílvio Porto. Ele menciona o exemplo do cultivo de arroz nos últimos 40 anos, no Rio Grande do Sul, que passou de 34% para 70% da produção nacional, “com graves consequências para o abastecimento”, por ser um produto de exportação.
Afora isso, o governo abandonou a estratégia de formação de estoques públicos. “O estoque atual de arroz não atende sequer o consumo nacional de dois dias, enquanto as exportações só crescem“, alerta.
O carro-chefe do agronegócio “moderno” exportável é a soja que, junto com o milho, representou, em 2020, mais de 90% de toda a safra de grãos colhida no Brasil. Em 43 anos, de 1976/77 para 2019/20, a produção brasileira da oleaginosa saltou de 12 milhões de toneladas para 124,8 milhões de toneladas.
A logística da soja, aponta o dossiê, está no centro da agenda “pública” do país, em detrimento de alternativas de infraestrutura com potencial de dinamizar outras economias e formas de viver e produzir.
“Além das evidentes consequências econômicas e ambientais, a apropriação privada da terra, a concentração fundiária e a violência no campo são a face mais perversa desse processo”, analisa a pesquisadora e organizadora do dossiê, Diana Aguiar.
A Fase é uma organização não-governamental que desenvolver ferramentas e metodologias educativas voltadas para o controle popular e a participação da cidadania no âmbito das questões urbanas e rurais.
