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quarta-feira, 27 de novembro de 2024

Perspectiva

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Perspectivas

Por Prof. MSc Sergio Perius

O Brasil, como o mundo em geral, se acha na linha divisória entre duas eras evolutivas de grandes consequências, e que os mentores das futuras gerações devem preparar-se devidamente para a missão de orientarem com segurança os homens de amanhã.

Essa nova forma de democracia, que Rhoden (1997) costuma denominar de “cosmocracia”, não será produto de uma revolução externa, mas sim de uma evolução interna; não serão as armas, mas as almas que decidirão sobre os novos rumos que o Brasil e a humanidade vão tomar. Necessitamos, não de uma nova ciência social, mas sim duma nova consciência individual, que projete os seus feitos sobre o plano da sociedade.

É matematicamente impossível que a sociedade seja melhor do que a soma total dos indivíduos que a compõem, porque aquela não é senão o composto destes componentes. É uma utopia pueril querer reformar a sociedade sem regenerar os indivíduos.

A nova forma de democracia que está por vir, segundo Rhoden, é impossível sem um novo conceito de educação.

Mas, é precisamente aqui que surge o grande problema….

Como realizar essa nova educação? Será suficiente elaborar e promulgar um novo programa educacional – feito, possivelmente, por uma comissão de técnicos nomeada ad hoc? Programa com tantos artigos e tantos parágrafos? Será suficiente dotar a sociedade de um novo estatuto jurídico, social, moral?

Muitos dentre nós julgam, de fato, que o mal esteja na deficiência de estatutos, planos e programas, e que, se estes fossem melhorados, teríamos um Brasil melhor, um mundo mais feliz.

Longe de mim querer negar a necessidade de melhores programas e técnicas educacionais! Confesso explicitamente que disto temos urgente necessidade… Nega-se, todavia, e com toda a veemência, que isto resolva o problema central. O melhor dos programas não funciona quando entregue a um homem, ou a um grupo de homens, que não sejam internamente bons, profundamente verdadeiros, realmente “desegoficados” e genuinamente Crísticos. A sociedade será tão boa ou tão má como os melhores ou piores indivíduos que a constituírem.

Ser bom não quer dizer possuir um verniz de honestidade legal ou uma reputação cívica imaculada. É possível que um homem seja um cidadão 100% honesto, perante a lei, e, apesar disto, 0% bom, perante Deus e a consciência.. Ser internamente mau e externamente bom, são coisas perfeitamente compatíveis em face da nossa decantada “civilização cristã ocidental”.

De intimis non curat praetor, diziam os antigos romanos – com as coisas internas não se preocupa o magistrado. Quando um funcionário público cumpre as obrigações de seu ofício, é ele considerado honesto, quer dizer, legal e juridicamente inatacável, mas é possível que seja humanamente mau. O foro externo não coincide. Necessariamente, com o foro interno. A lei cogita daquele – mas a educação tem que ver com este.

E é aqui que se bifurcam os caminhos entre simples instrução e verdadeira educação.

O que, hoje em dia, se chama educação é, quase sempre, mera instrução.

A instrução se refere aos objetos, quem se atém a índices não educa, instrui.

A educação visa o sujeito.

É, certamente, necessário que o homem seja instruído – mas não é suficiente. Para ser instruído, basta colher certa soma de conhecimentos exatos sobre objetos que o homem possui ou procura possuir – mas, para ser educado, é necessário que, dentro de seu próprio sujeito, realize as qualidades que perfazem o seu verdadeiro Eu.

A ciência – escreve Einstein, no seu livro Aus meinen spaten jahren – descobre os fatos objetivos da natureza (das was ist, aquilo que é) – mas a filosofia realiza valores dentro do próprio homem (das was sein soll,aquilo que deve ser). O descobrimento de fatos externos torna o homem erudito – mas a realização de valores internos torna o homem bom, e o homem realmente bom é um homem feliz.

Descobrir fatos fora de nós é instrução – realizar valores dentro de nós é educação.

É chegado o tempo para darmos a educação um caráter genuinamente humano, realizando valores ou qualidades dentro do próprio homem.

Não basta conhecermos objetos, por mias necessário que isto seja – é necessário que realizemos valores internos, despertando potências dormentes nas profundezas da natureza humana.

Embora, à primeira vista, esta distinção entre objetos e sujeito pareça simples jogo de palavras, ela marca, na realidade, a linha divisória entre dois mundos, entre o mundo horizontal do ter e o mundo vertical do ser; entre aquilo que o homem tem ou pode ter, fora de si – e aquilo que o homem é ou deve ser, dentro de si. Segundo Rhoden (1) (1997, 16), “o homem comum só se interessa pelo ‘ter’, pelas quantidades, ao passo que o homem mais avançado se entusiasma pelo ‘ser’, pelas qualidades”. Pode-se mesmo afirmar que tanto mais educado e culto é um homem quanto mais faz prevalecer, em sua vida, o mundo qualitativo do “ser” sobre o mundo quantitativo do “ter”.

O verdadeiro educador deve ser um homem altamente “realizado”; deve ter realizado em si os seus mais profundos valores humanos; só assim poderá servir de guia e mentor a outros, não tano pelo que diz ou faz, mas, sobretudo pelo que é. Deve ser plenamente educado, para que possa educar.

Ser educado não quer dizer apenas ter bons modos sociais; quer dizer (como insinua a própria etimologia da palavra) que o bom educador deve ter despertado em si os verdadeiros valores da natureza humana. “Educar” vem do verbo latino educare, derivado de educere, que quer dizer “eduzir”, conduzir para fora, ou seja, despertar no homem aqueles elementos positivos que nele se achavam dormentes, como sejam, verdade, justiça, amor, benevolência, solidariedade, etc. O educador é um ”edutor”, alguém que “eduz” do seu educando o que nele dormita de melhor e mais puro. Educar não é injetar, impingir, mas sim eduzir e desenvolver o que já existe na alma do educando, assim como a luz solar desperta e desenvolve na semente a planta que nela existe potencialmente.

Mas, como poderia alguém despertar em outrem os bons elementos, se no no despertador não estivessem esses elementos, plenamente despertados?

Para que alguém possa “eduzir” o que há de bom em seu educando, deve ele mesmo achar-se firmemente consolidado nesse plano do bem, ao qual quer elevar seu pupilo. Quem tenta “empurrar” em vez de “atrair” não é educador, não “eduz”, porque ele mesmo não está “eduzido”, fora do abismo. Por isso o educador deve ir na vanguarda do ser bom, e não ficar na retaguarda do ser mau, tentando empurrar o seu educando para a vanguarda das alturas, onde ele mesmo não está.

Ser educador equivale a um tremendo desafio para ser integralmente verdadeiro e honesto consigo mesmo. Quem não está disposto a aceitar esse desafio para uma veracidade integral e absoluta, não se exponha a essa perigosa e gloriosa aventura de querer educar os outros.

De maneira que o problema da educação culmina, logicamente, no problema central da autorealização do homem. Para que alguém seja um verdadeiro educador não basta estudar essa psicologia periférica e superficial que vem exposta na maior parte dos nossos compêndios – é necessário que desça à psicologia abismal de seu próprio Eu, aos mais profundos abismos da sua centralidade, entrando em contato direto com o alicerce cósmico da sua natureza humana, daquilo que ele é, e não apenas daquilo que ele tem.

A educação total exige a realização do homem integral.

Mas quem nos dará esses homens integrais?

Não há governo no mundo que os possa criar ou decretar, é necessário que o indivíduo desenvolva dentro de si mesmo esse homem integral.

E isto é possível, felizmente, porque dentro de cada um de nós existe algo maior e melhor do que aquilo que está fora de nós. O homem é muito mais aquilo que pode vir a ser e deseja ser do que aquilo que é no plano histórico de sua vida (Rohden, 1997). O homem é a sua permanente e silenciosa atitude interna, e não os seus ruidosos atos externos e transitórios. O homem é a sua eterna potencialidade, e não apenas a sua atualidade temporal.

Homem, procura ser no teu externo existir aquilo que és no seu interno ser! Homem, existencializa humanamente a tua divina essência, e serás ótimo educador, por seres plenamente educado.

(1) ROHDEN, Huberto. Novos Rumos para a Educação. 4ª ed. São Paulo, Martin Claret, 1997.

Sérgio Périus é Pedagogo, Especialista em interdisciplinaridade pelo IBPEX (Curitiba/PR), Mestre em educação (UNOESTE, Presidente Prudente/SP), professor, coordenador de Pedagogia da Faculdade de Amambai – FIAMA, diretor das Faculdades de Amambai – FIAMA e Faculdade de Administração de Fátima do Sul – FAFS.

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