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quarta-feira, 27 de novembro de 2024

Injustiça sempre gera violência

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Por R. Ney Magalhães*

Sobre o artigo recentemente publicado no jornal “O PROGRESSO”, do Bispo/Articulista Dom Redovino Rizzardo, da religião Católica Apostólica Romana, da fé também professada por minha família, como nativo deste Sul do MS e produtor rural por opção de vida, ouso fazer este comentário.

Reportando-se à visita do Ministro da Agricultura na Expô-Dourados, em seu discurso, a autoridade máxima do agronegocio nacional do Governo Lula e agora da Presidente Dilma declarou que a simples Demarcação de maiores áreas de Terras Indígenas no Estado de Mato Grosso do Sul é um foco errado na questão do bem estar e da integração dos Guaranis no contexto da atual brasilidade.

Sempre que leio ou participo desse tema, eu me lembro das palavras do Ex. Presidente Emilio Garrastazu Médici que recomendava aos Brasileiros… abrirem as janelas do País e olhar para os vizinhos. Assim poderíamos notar que o Brasil era forte e Progressista, apesar de estar passando por uma etapa difícil no encontro da democracia plena.
Se abrirmos hoje esta mesma janela vamos vislumbrar no Paraguay, na Bolívia, na Venezuela e em outras vitrines da vizinhança, os Nativos indígenas daquelas Nações, salvo raras exceções, exatamente nas fronteiras brasileiras, integrados como cidadãos independentes, tanto na política como na vida comercial.

Os indígenas brasileiros que tiveram a oportunidade de estudar, agora também são pessoas que sabem reivindicar sua cidadania, e assim o fazem, convivendo normalmente os problemas inerentes a toda a população brasileira.

Todos os seres humanos precisam e devem receber escolaridade para conseguir sobreviver no mundo atual. Voltar ao passado da obscuridade, da ignorância com o desconhecimento da realidade é um atentado a dignidade do ser humano.
Viver na Terra, caçando e pescando para a subsistência de sua família, é uma etapa da vida sulamericana que já passou.

Hoje, para Viver no meio rural, como cidadão independente é uma opção de vida com trabalho árduo e não muito desejado pela quase totalidade da população.
A posse da terra e sua exploração adequada exige agora uma formação tecnológica especial e de extremas dificuldades. Os produtos primários extraídos aqui nestes rincões do MS, com grãos e carnes exportados “in natura”, sem pelo menos a segunda fase de aproveitamento na agro-industrialização, fragiliza essa atividade.

E assim, sem a caça e a pesca, e sem a educação necessária, as Terras atualmente ocupadas pelos Indígenas, não estão cumprindo nem as mínimas funções sociais conforme diz a Constituição Brasileira. Muito pelo contrario. A vida degradante das famílias em aldeamentos é um triste quadro da vida nacional. A atual Política Indigenista está falida, e não é uma quantidade maior de terras que vai resolver o problema. Peço que os leitores observem que me refiro apenas a Questão Indígena Regional, pois acredito que cada Estado e cada etnia, deve ser analisada conforme suas peculiaridades.

O agronegocio de alta competitividade tecnológica chegou neste sul do MS há quarenta anos, e até hoje o Governo Estadual ainda não se preocupou em formar Tratoristas e outros tecnólogos dessa área, o Estado, portanto também é falido em Educação profissional, pois não se preocupou com a criação dessa mão de obra. Apenas forma Doutores, esquecendo-se da operacionalização do sistema.

Este é um vasto campo de trabalho para os jovens indígenas e para os filhos de colonos que tenham aptidão nessa seara. O Governo Federal está construindo algumas Escolas Técnicas em nossa Região, vamos aguardar os tipos de Cursos a serem ministrados.
Continuando as sabias palavras de Dom Redovino referindo-se a seus avós italianos que trocaram a Itália pelo Brasil, aqui recebendo dois ou três alqueires de Terra, trazendo na bagagem apenas a vontade de trabalhar. Pagaram aqueles solos com a construção e reforma de estradas e com grande esforço ajudaram a construir o Rio Grande do Sul.

E tomando esse caso familiar como exemplo, posso imaginar que nem todos seus familiares continuaram na Terra, pois ele próprio é agora um Sacerdote da Religião Católica. Graças a Deus ele conseguiu estudar. Infelizmente a maioria dos descendentes guaranis e dos demais nativos deste Sul do MS não tiveram a mesma oportunidade.

Finalizando me reporto aos idos de 1958, empreitando e promovendo derrubada de matas nas margens do Rio Amambaí para formação de Pastagens, e explorando os “caatins” dos ervais para exportação de Mate, recém casados, eu e a Hedy, empregava-mos mais de cem índios guaranys para aquelas funções de corte/colheita, secagem e embalagem do produto. Eles eram técnicos de alta produtividade e experientes naquelas atividades. Recebiam salários maiores que seus concorrentes nordestinos ou outros nativos. Muitos deles eram nossos compadres e seus filhos e filhas brincavam com nossos filhos, tendo sempre como “babá”, uma menina moça guarany. Na cidade mais próxima, que era Amambaí, um município Ervateiro, os guaranis eram respeitados, e sempre elegiam um ou mais vereadores na mesma legislatura. Era a verdadeira integração tão badalada e decantada atualmente, quando se observa apenas a discriminação racial e o descaso com a Educação.
Hoje, falta sacerdócio educacional e sobra injustiça aos proprietários rurais e aos guaranys abandonados. E essa injustiça está incitando um quadro de violência.

*Produtor Rural em Amambaí. 76 anos de idade.
Fundador da FAMASUL.
[email protected]

Injustiça sempre gera violência

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