Graças ao processo de compostagem, o agricultor familiar campo-grandense Jair Azambuja Fernandes ajuda a retirar da natureza toneladas de resíduos potencialmente poluentes. O material resultante do processo de reaproveitamento é usado na produção de hortaliças orgânicas, reduzindo as despesas do plantio. Caso optasse em usar produtos industrializados próprios para este tipo de cultivo, ele gastaria o dobro do que investe atualmente.
A chácara onde o pequeno produtor mora com a família fica na região do Indubrasil. Na horta, a assistência técnica ficou por conta da Agraer (Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural) em parceria com a Sidagro (Secretaria Municipal de Inovação, Desenvolvimento Econômico e Agronegócio).
“Hoje eu não perco nada. Reaproveito dos resíduos orgânicos da cozinha até os restos das folhas que eu limpo antes de sair para vender na feira de orgânicos. E tem dado resultado”, garante Jair.
O agricultor familiar é um dos únicos da região que optaram em fazer o próprio adubo por meio da compostagem. A maioria dos vizinhos prefere comprar o produto pronto, certificado para a cultura de orgânicos.
Processo de Produção
Como Jair vive em uma chácara, e precisa do composto em larga escala, ele faz a decomposição de cada material isoladamente: resíduos de cozinha e restos de hortaliças; esterco de frango comprado de uma granja em Terenos; sobra de indústrias de sementeiras de pastagem e restos de cultura.
“Aqui eu só queimo a palhada da roçada quando eu preciso de cinzas para misturar no adubo. Caso contrário, eu reaproveito tudo dessa forma. Deixo curtir para que os produtos estabilizem e eu possa misturá-los com a terra para usar na plantação”, explica o agricultor familiar.
Engenheiro agrônomo e extensionista da Agraer, Sidney Kock explica que fazer essa pré-compostagem torna o resultado final mais rápido e eficaz.
“Os restos de sementeira, por exemplo, têm muita celulose. Se eu o misturasse diretamente na terra iria acontecer a compostagem, mas os micro-organismos que atuam na decomposição precisam de muito nitrogênio, então ele acaba retirando isso do solo e depois a planta acaba não crescendo”, explica.
Jair sabe que os materiais já estão prontos para a produção de adubo pela temperatura. Durante a fermentação, eles chegam a 100°C dependendo do composto. Quando esse processo termina, ele esfria.
“A mistura depende do tipo de vegetal que eu vou usá-la, porque cada um tem uma necessidade diferente. A cama de frango, por exemplo, serve para agregar nitrogênio ao produto. Se precisar, eu adiciono ainda borra de café, cinzas, um pouco do resíduo composto do resto de cultura, etc.,”, diz.
Estratégia
Produtos certificados como orgânicos não têm uso de agrotóxicos e esse adubo feito a partir de compostagem o isenta de quaisquer outros tipos de químicos. Para facilitar o controle de pragas, ainda são feitas barreiras naturais ao redor dos canteiros.
Jair vende as hortaliças em feiras e ainda desenvolveu um sistema de delivery e drive thru desse tipo de produto. Pelo WhatsApp, ele recebe diariamente as demandas dos clientes, monta uma lista e passa para um grupo no mesmo aplicativo de mensagens onde estão todos os vizinhos.
Cada um informa com quais itens pode atender. O agricultor familiar recolhe, monta os kits para cada consumidor e vai até uma praça no Centro de Campo Grande, onde as encomendas são buscadas. Caso opte em recebe-las em casa, a pessoa paga o serviço de entregas via aplicativo.
Jair então volta para o Indubrasil e repassa o dinheiro corresponde às vendas de cada um dos vizinhos. “Antes eu era atravessador de produtos orgânicos, mas não compensava. O melhor mesmo é ter a própria produção para fazer a venda e está dando certo. E não é apenas a questão econômica, mas se pensar bem, a granja não usa o esterco e a indústria tampouco aproveita os restos de sementeiras. São materiais que poderiam estar sendo descartadas de forma nociva ao meio ambiente”, completa o agricultor familiar.
Fonte e fotos: Ricardo Campos Jr. – Comunicação da Agraer