A qualidade do ar em ambientes fechados é uma questão essencial para o bem-estar e a segurança de milhões de pessoas. Passamos cerca de 90% do nosso tempo em espaços internos, como casas, escritórios, escolas, hospitais e locais de lazer. Por isso, garantir que o ar respirado nesses locais esteja livre de contaminantes é fundamental para a saúde física, mental e até mesmo para o desempenho das atividades diárias.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a má qualidade do ar interno está diretamente relacionada a problemas de saúde como alergias, crises de asma, doenças respiratórias crônicas e, em casos mais graves, doenças cardiovasculares e câncer. A pandemia de COVID-19 também trouxe à tona a importância da ventilação adequada e da purificação do ar, ampliando o debate sobre medidas eficazes para prevenir a propagação de agentes infecciosos.
Principais poluentes do ar interno
A qualidade do ar em ambientes fechados pode ser comprometida por uma variedade de poluentes, que são geralmente classificados em três categorias principais:
- Poluentes químicos: compostos orgânicos voláteis (COVs) emitidos por tintas, produtos de limpeza e móveis; monóxido de carbono de aparelhos de combustão; e dióxido de carbono resultante da respiração humana em espaços mal ventilados.
- Poluentes biológicos: mofo, ácaros, bactérias e vírus são contaminantes biológicos comuns. Ambientes úmidos ou com ventilação inadequada favorecem o crescimento desses organismos.
- Partículas em suspensão: poeira, fumaça de tabaco, fuligem e micropartículas oriundas de materiais de construção também impactam negativamente a qualidade do ar.
Impactos na saúde e no desempenho humano
A má qualidade do ar interno não apenas aumenta o risco de doenças respiratórias, mas também afeta significativamente o desempenho cognitivo e a produtividade. Um estudo realizado pela Universidade de Harvard revelou que trabalhadores expostos a ambientes com ar poluído apresentaram uma redução de até 15% na capacidade de raciocínio lógico e na tomada de decisões. Crianças em escolas mal ventiladas também demonstram maior dificuldade de aprendizado, de acordo com pesquisas da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA).
Os efeitos da poluição interna podem ser mais severos para grupos vulneráveis, como idosos, crianças e pessoas com condições pré-existentes, como asma ou doenças cardíacas.
Estratégias para garantir a qualidade do ar interno
Ventilação adequada
A ventilação é a principal estratégia para reduzir a concentração de poluentes no ar. A circulação de ar fresco dilui contaminantes e reduz a proliferação de patógenos. Em residências, abrir janelas regularmente é uma prática simples e eficaz. Já em prédios comerciais e industriais, sistemas de ventilação mecânica e HVAC (aquecimento, ventilação e ar-condicionado) são fundamentais para manter a qualidade do ar.
Filtragem do ar
Filtros HEPA (High-Efficiency Particulate Air) são altamente recomendados para ambientes onde há maior necessidade de controle de partículas, como hospitais, escolas e escritórios. Esses dispositivos capturam até 99,97% das partículas em suspensão, incluindo poeira, alérgenos e algumas bactérias.
Controle de umidade
Manter a umidade relativa entre 30% e 50% é essencial para evitar o crescimento de mofo e ácaros. Isso pode ser feito com o uso de desumidificadores e umidificadores, dependendo das condições climáticas locais.
Redução de fontes poluentes
Evitar o uso excessivo de produtos químicos, optar por materiais de construção de baixa emissão de COVs e limitar o uso de velas perfumadas e incensos ajudam a minimizar a poluição interna. É importante realizar manutenções regulares em aparelhos como fogões e aquecedores a gás.
Uso de plantas purificadoras
Algumas plantas, como a espada-de-são-jorge e o lírio-da-paz, têm a capacidade de filtrar toxinas do ar e melhorar a qualidade geral do ambiente. No entanto, é importante lembrar que elas não substituem outras medidas, como a ventilação e o uso de filtros.
Qualidade do ar em ambientes hospitalares
O controle da qualidade do ar em hospitais é um dos aspectos mais críticos para a segurança e bem-estar de pacientes, profissionais de saúde e visitantes. Em um ambiente hospitalar, onde há uma alta concentração de pessoas vulneráveis e maior risco de contaminação cruzada, sistemas de filtragem avançados e tecnologia de ventilação pressurizada são indispensáveis.
Estudos apontam que a presença de filtros HEPA e fluxos de ar laminar em salas cirúrgicas reduz significativamente a incidência de infecções hospitalares. Os sensores de monitoramento contínuo são ferramentas valiosas para garantir níveis adequados de dióxido de carbono, umidade e outros indicadores-chave.
Avanços tecnológicos e soluções inovadoras
Nos últimos anos, tecnologias emergentes têm transformado a forma como monitoramos e gerenciamos a qualidade do ar interno. Sensores inteligentes conectados a aplicativos de celular, por exemplo, permitem que os usuários acompanhem em tempo real níveis de CO2, partículas e umidade. Dispositivos portáteis de purificação do ar estão se tornando cada vez mais acessíveis e eficientes.
Outra inovação importante é o uso de luz ultravioleta (UV-C) para desinfecção do ar em ambientes fechados. Essa tecnologia já é amplamente utilizada em hospitais e está sendo adaptada para outros locais, como escolas e escritórios.
Legislação e normas sobre qualidade do ar interno
No Brasil, a Resolução RE nº 9 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) estabelece padrões de qualidade do ar para ambientes climatizados de uso público e coletivo. Essa norma define limites para poluentes como dióxido de carbono, partículas inaláveis e compostos químicos. Embora seja um avanço, ainda há desafios na fiscalização e no cumprimento das diretrizes.
Investir na qualidade do ar em ambientes fechados é uma ação que vai além da saúde; é uma questão de bem-estar, produtividade e segurança para todos. Seja em casa, no trabalho ou em locais como hospitais e escolas, adotar práticas e tecnologias para melhorar a circulação e purificação do ar é essencial. Como afirmou a OMS, “o ar limpo não é um luxo, mas um direito humano básico”. Portanto, garantir ambientes internos saudáveis é uma responsabilidade compartilhada entre governos, empresas e indivíduos.