27/09/2011 08h06 – Atualizado em 27/09/2011 08h06
- Artigo de Cleber de Araújo Arantes
Numa das muitas paragens das carretas, a serviço de Dom Thomas, onde nas raras folgas, tomavam tereré e proseavam, arrastando um guarani e o castelhano, ali numa sombra de um pé de árvore, se entendiam gaúchos, paraguaios em meio a cuiadas, num diálogo jopará.
Erva é o que não faltava, nem sede, pois a labuta era dura e o corpo, preto de sol precisava deste verde e santo licor, o caá.
Homens da lida, meio que ariscos, que só queriam mesmo era sobreviver e do suor, bem aproveitado por sinal, não deixando passar um dia sem serviço, foi surgindo uma esperança, que nem no maior sonho se pensou ser assim.
Foi se ajeitando nas fronteiras (se é que elas existem) uma terra, até então com um só dono no papel, que tinha uma essência, uma alma guarani no seu tramar, foi se mudando, se moldando, se pintando, mais pro futuro do que pra guerra.
E das paragens, foi se tornando lugar, lugarejo, depois vila, vilarejo e num dia num lampejo, gente ousou falar: patrimônio, o união, que surgiu da união.
Depois disso, enveredou e foi só querendo crescer, florou como a guavira nos outubros calorentos… Não parou mais. E seu povo? Nem te falo, se for daqui você me entende, se não for, não posso te explicar, precisa viver muito tempo entre nós pra saber o que é o “ser daqui”, o que é Amambay…
Que tradução nenhuma decifra, que só o pertencimento pode desvendar, é ter o por do Sol mais lindo do mundo e chamar a todos, mesmo os poucos desafetos de ch’amigo…
O ser daqui é ter amor por cada palmo, por cada irmão e não se abalar com os temporais, porque eles passam e nunca destruirão as flores, nem o Guaviral, que Deus plantou no coração do Mato Grosso do Sul.