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quarta-feira, 27 de novembro de 2024

8 de dezembro: Dia de La Virgen de Caacupé

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08/12/2011 09h16 – Atualizado em 08/12/2011 09h16

  • Artigo de Odil Toledo Puques

“Alabado sea el santíssimo sacramento del altar. E la virgen concebida sin pecado original. El manjar más regalado deste suelo terrenal. Es Jesus sacramentado, dios eterno e imortal”.

É o dia da Virgem de Caacupê, a padroeira do Paraguai e, por consequência, da paraguaiada amambaiense. Diz que la virgen de Caacupê recebeu este nome no país vizinho, que traduzindo, quer dizer ‘atrás do pé de erva’, porque um bugre guarani devoto de Nossa Senhora Mãe de Jesus Cristo fugia de seus agressores, estes enfurecidos, armados e em grande quantidade.

Vendo-se cercado por todos os lados, este índio se escondeu atrás de um pé de erva, planta muito comum em toda a região, e fez um pedido para Nossa Senhora, que se conseguisse se livrar dos contendores, faria naquele mesmo lugar um altar para a santa. Pois foi dito e feito. Os adversários passavam todos pelos lados do perseguido e não o notaram. Promessa feita, promessa cumprida.

Este índio esculpiu a imagem da santa em madeira e, ali naquele mesmo lugar ergueu um altar em sua homenagem. Esse lugar passou a ser muito visitado e todos que se socorriam da santa pedindo sua intercessão junto a Deus Pai Todo Poderoso e seu filho Jesus Cristo, tinham suas graças alcançadas. Um dia, as autoridades locais acharam que aquele era um lugar inapropriado para a santa.

Mandaram fazer um outro altar mais bonito, rico de enfeites e levaram a imagem pra lá. Milagrosamente, a santa voltou pra aquele mesmo lugar simples, onde um seu devoto havia erguido o altar em sua homenagem. Isso se repetiu algumas vezes, até que todos os paraguaios se convenceram de que o lugar dela era aquele. E lá a santa permanece até os dias de hoje.

Os devotos da santa são chamados de ‘promesseros’. Não conheço gente que tenha mais fé que essa, talvez por ser um povo muito sofrido e ter passado por tantas perseguições, ser praticamente dizimando na Guerra da Tríplice Aliança, é que pra tudo o paraguaio se socorre da santa. Dor de garganta, emprego, mudança, marido, noiva, dor de cabeça, problemas intestinais, dinheiro, cura, tudo é motivo de pedir ajuda da Caacupê e cumprir no dia 08 de dezembro.

Pela quantidade de promesseros encontrados pelas casas e ruas, todos devem ser atendidos. Nos dias que antecedem o oito de dezembro, já começam os preparativos para a grande festa. As famílias se reúnem para a novena que, obviamente, termina no dia da santa preparam-se guardando os condimentos e enfeitando a imagem, com lenços, fitas, papéis coloridos.

Chegado o dia, primeiro são as rezas, os agradecimentos, os pagamentos das promessas pelas graças recebidas e pelos milagres intercedidos depois o almoço à base de mburi-mburi, chipa, sopa-paraguaia. E dê-lhe musicaiada:

‘Pelas caravanas de los promesseros aciendem la loma de Caacupe…. Um dia quiseram levar-te muy lejos, pero num milagro digiste tove, desde entonces ciego, creyente e sincero, tu pueblito humilde, virgencita india, se prostro a sus pies”.

Claro que dali a pouco a coisa desembesta para as polcas e chamamés que ninguém é de ferro e afinal é um dia de festa e a santa há de ficar até faceira com tanta alegria. Antigamente, como todos moravam em pequenos sítios, as famílias se reuniam em uma das casas e faziam um baile dos mais animados, até o dia amanhecer. Hoje em dia, a festa está mais restrita aos pagamentos de promessas e almoços, mas a alegria continua a mesma.

Tempos idos também, o 8 de dezembro era dia de ‘sortija’. Diz que aqui em Amambai a festa mais conhecida era na chácara da Dona Salomé – hoje um supermercado e depois da Nhá Chica, ali pelos lados do Ytapoty. Paraguaia das mais devotas pagava suas promessas oferecendo um grande almoço pra vizinhança e, à tarde, os cavaleiros se atracavam na competição. A coisa funcionava mais ou menos assim: Fincava-se duas estacas paralelas uma à outra, de uns três metros de altura e, transversalmente outra estaca, onde eram colocadas argolas de todos os tamanhos.

O cavaleiro vinha então em disparada com uma espécie de ‘lança’ na mão – que, na verdade, não passava de uma vareta devidamente preparada para a ocasião – e tentava acertar exatamente dentro da argola e ficar com ela na sua vareta, a cada argola conquistada, ganhava-se um lenço colorido das mãos das moças da festa e se ia pondo aqueles enfeites no apero, e claro, quanto menores as argolas, maiores as dificuldades em se conseguir o intento.

Ao final do dia, os vencedores estavam com os arreios dos cavalos coloridíssimos de tantos sucessos conseguidos na empreitada. A sortija ainda hoje é muito comum no Paraguai, sendo o 8 de dezembro e o 20 de janeiro dia de São Sebastião, as datas em que los hermanos comemoram a festa. Por aqui, resta a nosotros manter a reza, a dança e nos deliciarmos com as chipas e sopas recheadas de lembranças e saudades.

  • Odil Puques é advogado e um dos coordenadores da Casa Paraguaia de Amambai

La Virgen de Caacupé.

8 de dezembro: Dia de La Virgen de Caacupé

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