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quarta-feira, 27 de novembro de 2024

O novo, o que será: 2012

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06/01/2012 09h50 – Atualizado em 06/01/2012 09h50

Fonte: Adital

Escreveu Delfim Netto estes dias (olha eu, quem diria, citando Delfim Netto, que abominávamos nos anos setenta por todas as razões do mundo): “Como disse Santo Tomás de Aquino, ‘os homens não podem conhecer o futuro… a não ser por revelação divina’. Parece pouco provável que Deus escolha um economista para fazê-lo!”. Como não sou economista, muito menos profeta, arrisco alguns comentários sobre 2012. Mais para partilhar sentimentos e impressões, anunciar desejos, menos para dizer verdades ou proclamar certezas.

2012 tende a ser, por todos os títulos, um ano interessante. 2011 forneceu elementos para esta perspectiva. Os jovens e trabalhadores estiveram na rua em todos os cantos do mundo e deverão continuar. Não há razão previsível para que assim não seja. A crise econômica deverá aprofundar-se na Europa e nos países ricos. Ruim, muito ruim para os trabalhadores, para aqueles que dependem de salário e emprego. Não tão ruim ou nada ruim para a banca, que mantém seus lucros à base do arrocho do povo e dos prepostos que colocou no poder nos países mais encalacrados na crise, como Grécia e Itália, e pelo voto na Espanha.

O lado bom, se é que pode haver ou se pode esperar lado bom, é que crise é oportunidade, segundo sempre dizem. Por ora, a oportunidade está sendo aproveitada e usufruída pelo mercado financeiro, mesmo com os protestos do povo na rua. Cresce, no entanto, a consciência de que desenvolvimento não é apenas crescimento econômico; que o consumismo das últimas décadas é incompatível com qualidade de vida e com respeito ao meio ambiente; que outros valores devem dominar as relações econômicas e sociais que não apenas o lucro e o enriquecimento; que o neoliberalismo e seus ajustes fiscais beneficiam apenas alguns e deixam de fora do banquete a grande maioria; que a política deve ser assumida por todos na democracia não apenas do voto, mas também nas ruas, nas praças e na mobilização social; que sonhos e utopias de igualdade, fraternidade, solidariedade ainda têm sentido; que o mundo não pode e não deve ter apenas um único pensamento e ser unipolar, mas multipolar e multilateral, onde os do Sul têm vez e voz. 2012 pode ser isso ou caminhar neste rumo.

A América do Sul deverá aprofundar seu caminho de mudanças, sua estrada alternativa em 2012. Não sem tensões, não sem dúvidas, não sem impasses. Não há um único trilho. A Bolívia não é o Equador, que não é a Venezuela, que não é a Argentina, que não é o Peru, que não é o Paraguai, que não é o Uruguai, que muito menos é o Brasil. Mas a urgente e necessária integração latino-americana poderá se aprofundar, no esforço de construir um projeto de desenvolvimento com distribuição de renda e espaço para todos e todas, reconhecimento de indígenas, quilombolas, catadores e recicladores, mulheres, jovens e trabalhadores como fundantes de um projeto de mudança, onde os laços culturais se aproximam, assim como a vontade e a determinação de buscar ‘um outro mundo possível’.

Aliás, 2012 começa com o Fórum Social Mundial Temático em janeiro em Porto Alegre, na preparação da Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável Rio + 20, em junho, no Rio de Janeiro. Será um momento sem igual para pensar o futuro, mobilizar governos e sociedade.

O governo Dilma, em especial através da Secretaria Geral da Presidência da República, vai ampliar o debate e a relação com a sociedade, os movimentos sociais, igrejas e pastorais, ONGs e organizações populares. Não será sempre um diálogo fácil e sem tensões. Mas será transparente, olho no olho.

O Brasil já está e estará cada vez mais no centro dos debates mundiais e da esperança. O ‘gigante adormecido’ está acordando do sono que as elites lhe impuseram por séculos. Há um (re)despertar de movimentos sociais, de organizações de base, de pensamentos e idéias, da educação popular libertadora, ainda longe do necessário, porém mais próximo e à frente do torpor das últimas décadas.

É o desafio de propor o novo, de juntar as experiências da economia solidária, da educação popular, das mobilizações de massa, das ocupações, das greves, das lutas contra a fome e a miséria e, criativamente, a partir de baixo, construir um projeto de desenvolvimento com inclusão social, distribuição de renda, participação social e popular, “tendo como utopia a construção de sociedades sustentáveis por meio da ética do cuidar e de proteger a bio e a sócio-biodiversidade” (Carta Aberta de educadores e educadoras por um mundo justo e feliz – http://www.tratadodeeducacaoambiental.net/).

2012 pode ser tudo isso e mais um pouco. Como diria o cantor ou o poeta, depende de nós.

Em seis de janeiro de dois mil e doze.

O novo, o que será: 2012

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