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quarta-feira, 27 de novembro de 2024

Um século com aftosa

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16/01/2012 09h07 – Atualizado em 16/01/2012 09h07

  • Artigo de Ney Magalhães

Quando as primeiras caravanas de carretas de bois partiram de São Luis Gonzaga RS, atravessando a Argentina e Paraguay chegando para colonizar o então Mato Grosso, nossos avós conheceram durante a jornada os primeiros sintomas do mal que hoje é conhecido como Febre Aftosa.

Alem dos bois de “canga”, um lote de vacas para cria acompanhava a grande viagem.
Após muitas “marchas” por terrenos inóspitos, alguns animais apresentavam rachaduras nos cascos, precedidas por sinais de cansaço e corrimento nas narinas.

“Mal dos cascos”, “Frieira”, foram algumas das primeiras denominações que conheci para este grande problema que ora aflige a Economia do Estado.

Os animais das caravanas eram tratados com a “querosene já utilizada nas lamparinas”, diretamente nas narinas, nos cascos e até misturada ao sal. O descanso de longas paradas também fazia parte do tratamento.

Passados os anos, os grandes rebanhos já formados no Pantanal Mato-grossense ou no Chaco Paraguayo, quando negociados para o Planalto com destino aos Campos da Fronteira ou aos Campos de Vacaria e tendo que viajar muitas “léguas” por caminhos ora alagadiços, ora pedregosos, apresentavam os mesmos sintomas dos bovinos dos colonizadores.

Os tempos eram outros, os animais doentes ou cansados, hoje modernamente denominados de “stressados”, eram deixados para trás, em pontos de tratamento.
Quando os cascos não ficavam bem “curados” passavam a chamar-se de “frieiras” ou “chinelos”. Eram engordados e comercializados, com as carnes utilizadas normalmente sem restrições para o consumo humano.

Os rebanhos dos criadores passaram a conviver sazonalmente com esse mal, sem maiores consequências.

Chegada a modernidade, detectou-se aquele “mal” como Febre Aftosa.
A tecnologia produziu as Vacinas e o problema quase terminou.

O Rebanho Bovino do Mato Grosso cresceu e se tornou o maior do Brasil, hoje o MS disputa a hegemonia da quantidade e qualidade desse setor importante da Economia Nacional.

Este talvez seja o fator mais relevante da questão, pois transforma o mal em questionamento político entre Estados.

O Ministério da Agricultura, responsável maior pela Defesa Sanitária Animal e Vegetal do País vive em eternas “campanhas” contra os males que afetam esse setor rural, e não conseguem chegar “aos finalmente”.
Não por falta de Técnicos ou Tecnologias, mas sim por interesses comerciais que transformaram a Febre Aftosa em Doença Político/Econômica.

Nota do autor em Janeiro de 2012

Com as atuais Leis de preservação da Fauna atualmente já é visível o aumento do numero de animais silvestres perambulando pelas pastagens, lavouras e reservas florestais e ainda os pássaros principalmente urubus e gaviões com presença constante.
Nos cochos de sal das propriedades rurais são encontrados sinais visíveis da presença de veados, capivaras e outros animais transmissores desses vírus, e também suscetíveis à febre aftosa.

As Campanhas de Combate a Febre Aftosa deveriam então atingir as capivaras, veados e outros animais atingidos pela doença. Certamente que isso e impossível.
E assim, nas regiões tropicais os rebanhos bovinos vão conviver mais um século de Campanhas, com essa “gripe” de diversos vírus e de muitos repasses financeiros para seu combate.

Observe-se que o Governo decretou e liberou o Estado de Santa Catarina livre de febre-aftosa Sem Vacinação para exportação de Carnes. O que nos leva a conclusão de que SC é outro Pais ou por lá não existem mais Reservas Naturais, nem Matas Ciliares e muito menos animais silvestres. Ou ainda, seus Políticos são muito eficientes ao “puxar a brasa para seu assado”.

E ainda, em tempos de mídia globalizada mobilizar o Exército Brasileiro em Operações de Fronteira, com tanques de guerra apontando seus canhoes e metralhadoras contra os indefesos produtores rurais que transportam alimentos nestas mal tratadas rodovias eu considero uma tremenda propaganda negativa contra o agronegócio regional.

O MS dispõe de Defesa Sanitária Animal e Vegetal eficientes, com Veterinários, Agrônomos e demais Técnicos que nesta oportunidade deveriam ser mais valorizados com prioridades não só de fiscalização, mas com extensionismo educativo, para não incorrerem no grave erro do Ministério da Agricultura que atualmente se transformou em um grande Cartório de expedição de Alvarás policiais, sem fomento das atividades rurais.

Por enquanto a Aftosa é um caso de administração política /financeira e não de guerra contra os produtores de alimentos.

Retrospectiva: Artigo Publicado em 9/6/2007

  • Ney Magalhães é produtor rural em Amambaí e foi Delegado Federal do Ministério da Agricultura no MS.

Um século com aftosa

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