20/03/2012 14h15 – Atualizado em 20/03/2012 14h15
Por Antonio de Oliveira Franco
Ouvimos muitos burburinhos e dados estatísticos veiculados pela mídia de que a base da pirâmide social não é e não será mais a mesma no Brasil. No entanto, enfrentamos um contexto em que a exclusão social é um fenômeno multidimensional, ou seja, complexa. A exclusão social se reflete nas famílias, vulneráveis, vítimas de um processo histórico excludente e segregador, arraigadas às mais diversas expressões das mazelas sociais, elas sofrem com a discriminação; humilhação; fome; desemprego; com o assédio moral, intelectual e sexual; educação e saúde de péssima qualidade e, como se não bastasse; com um assistencialismo insistente.
Podemos ver que são várias as expressões das questões sociais, assim como são várias as instituições nascidas de um processo histórico caracterizado pela “crise do Estado brasileiro” após um período ditatorial, bem como o crescente desenvolvimento de políticas públicas que atendem as mais diversas classes da sociedade nas mais diversas intenções, seja contribuir com o Estado desafogando-o fazendo seu dever ao atender determinada demanda, seja utilizando o dinheiro público de forma errônea e comprometedora, como muitas entidades do chamado terceiro setor.
Acontece que mesmo com o aumento do número de instituições ou entidades de atendimento socioeconômico ou educacional, nos deparamos com outros problemas que não deveriam existir, uma vez que as entidades existem e funcionam, pelo menos no papel, uma vez que as mesmas têm endereço, funcionários, mobiliários, veículos e materiais para desenvolverem seus serviços. Mas onde está a falha então?
Estas instituições de caráter público sem fins lucrativos fazem parte de um sistema, o qual se denomina REDE, a rede socioassistencial, muito conhecida pelos profissionais que trabalham na Educação, na Saúde, na Assistência Social, no Ministério Público, enfim. Mas a falha é de outro Sistema… E o Sistema é composto por pessoas e profissionais; educadores, psicólogos, assistentes sociais, advogados, legisladores, orientadores sociais, conselheiros tutelares, policiais, sociedade civil organizada e todos os cidadãos de bem, dentre os quais também fazemos parte.
Todos os profissionais acima são capacitados, bem como todas as instituições que estes profissionais representam são bem equipadas… Mas o que falta para que a rede funcione?
Falta o reconhecimento e a ética profissional de colocar o usuário, sua família e sua comunidade como os mais interessados e necessitados dos mais diversos serviços ofertados dentro da rede. Falta compreensão de que as famílias que necessitam desses serviços, muitas vezes são incapazes de chegar até o território onde os mesmos são ofertados. Falta comunicação entre os membros da rede e o (re)conhecimento dos serviços ofertados. Como vender a mercadoria sem conhecê-la? Falta abrir espaços de protagonismo para que as famílias e seus membros se reconheçam parte de uma sociedade e possam se organizar e ter autonomia. Falta oferta de serviços, programas, projetos e benefícios que cubram os danos sofridos pelas famílias e que minimizem ou excluam de vez as agressões, vulnerabilidades, explorações e as fragilidades das famílias.
A rede socioassistencial configura ações horizontais entre parceiros com uma única finalidade, o bem comum. Conforme os conceitos de Gestão Social defendidos por vários autores, entre eles Carvalho, 1999, o conceito de rede está intimamente ligado à superação das demandas e dos problemas sociais com a participação de diversas instituições da sociedade e tendo por base a descentralização e participação popular. Devemos entender rede como um instrumento mais eficaz do que ações paliativas e individuais dos diversos órgãos que a compõe.
A rede tem que, ao mesmo tempo em que atende a demanda horizontalmente, orientar os usuários a participar dos processos de decisão e transformação de sua comunidade, emancipar e promover políticas públicas básicas como a educação, saúde, habitação, cultura, lazer, esporte e NÃO PRENDER SEUS USUÁRIOS EM UM CÍRCULO VICIOSO E DEPENDENTE, a que muitos chamam de rede.
O autor é professor e Assistente Social