25/03/2012 10h18 – Atualizado em 25/03/2012 10h18
Por José Annes Marinho
Recentemente, tenho observado vários artigos relacionados ao tema agrotóxicos e muitos deles deveriam informar a sociedade, mas infelizmente, cada vez mais, colocam as pessoas em pânico. Por que será? Levar informações incorretas as pessoas é gratificante? Ou estas pessoas não têm informações suficientes para posicionar-se sobre o assunto? Eu particularmente gostaria que o tema fosse tratado de forma agradável, que o mesmo pudesse ser entendido e baseado em ciência que ajudasse o produtor rural a colocar alimentos de qualidade em nossas mesas.
Há muitos fatos que levam pessoas que não conhecem cientificamente o tema, a discorrerem e buscarem explicações, quase sempre, infundadas sobre esta tecnologia. Os agrotóxicos, defensivos agrícolas, pesticidas, todas estas definições são sinônimos. Portanto, se você for questionado a respeito destes nomes, saiba que está falando do mesmo tema, apenas com designação diferente. No Brasil de acordo com Lei 7.802 o termo aprovado foi “Agrotóxico”. Como em algumas discussões calorosas, em geral, usamos a ideologia e esquecemos a ciência. No resto do mundo o termo agrotóxico é chamado de pesticida ou “pesticide”. Neste contexto, observamos alguns artigos, em especial, ao da revista Veja – “A verdade sobre os agrotóxicos” – baseado em ciência, consultando grandes cientistas que respondem as principais dúvidas sobre o assunto para que as senhoras – donas do lar, os senhores empresários, estudantes – que estão longe dos campos, gostariam de entender sobre esta tecnologia que, felizmente, revolucionou a agricultura brasileira. É fundamental que vocês saibam que estes produtos são responsáveis por nossa alimentação.
Dados da Organização das Nações Unidas (ONU) mostram que, se não existisse este tecnologia, cerca de 40% do que é produzido de alimentos seria perdido. Porém, temos de respeitar as opiniões contrarias a esta tecnologia, a exemplo quando o Brasil iniciou o processo da biotecnologia. No entanto, felizmente quem predominou neste caso foi à ciência. Senhoras do lar: não comemos “agrotóxicos” todos os dias, fiquem tranqüilas. Recentemente, li uma publicação que recomenda comer somente produtos orgânicos “recomendo que os alimentos listados acima sejam orgânicos” referindo-se a lista divulgada pela Anvisa. Será que isso resolve ou nos põe em risco? Exemplos mostrados pelos meios de comunicação a respeito da contaminação de brotos de feijão na Alemanha com a bactéria E. coli causou a morte de pelo menos 30 pessoas, e isso não seria relevante para termos mais cuidados.
Há estudos científicos que comprovam que orgânico é melhor que convencional? Pesquisando encontramos um estudo conduzido pela Agência de Alimentos do Governo da Inglaterra e o trabalho publicado no American Journal of Clinical Nutrition, representa a maior revisão de estudos já feita sobre o tema com 162 artigos científicos publicados nos últimos 50 anos. De acordo com os pesquisadores, os alimentos chamados orgânicos — aqueles que utilizam fertilizantes e defensivos agrícolas e não-derivados de ingredientes químicos — não têm benefícios nutricionais superiores aos dos alimentos cultivados com adubos e defensivos sintéticos. Será que os alimentos produzidos na Inglaterra e nos Estados Unidos são diferentes dos produzidos no Brasil?
Talvez, em paladar, alguns, mas em componentes nutricionais é muito difícil. Outro dado interessante é que toxicologistas do mundo inteiro nunca comprovaram casos ou problemas de câncer relacionados aos defensivos em seres humanos, o que há são hipóteses, mas nunca relacionado à alimentação e sim a exposição dos aplicadores.
Pois bem, esclarecer é fundamental. Acredito que hoje vocês imaginam que não sejam utilizados produtos químicos na agricultura orgânica, estou certo? Que exista controle do que é utilizado na produção orgânica pelas autoridades? Vocês já ouviram falar em calda bordalesa e óleo de nin ambos usados na agricultura orgânica? Eis a resposta: são produtos químicos, mas não sintetizados, que tem suas restrições de uso como os defensivos, portanto, estamos colocando em conflito a agricultura, ambas são importantes e têm seus clientes, o que precisamos são pessoas que busquem as respostas na ciência e não na ideologia.
Diante dessas premissas existem questões que devemos refletir como, por exemplo, se não houvesse mais agrotóxicos no mundo, será que o custo dos alimentos seria o mesmo? Será que 37% dos empregos gerados no Brasil existiriam? Vamos mais longe: será que manteríamos a balança comercial do Brasil no verde? Pois é, antes de criticarmos algo, precisamos refletir sobre as implicações que tais decisões possam afetar em nossas vidas. Dito isto, pesquisas que duram anos para que um defensivo esteja apto a ser comercializado, apresento-lhes algumas informações importantes. Os fatores de segurança utilizados para estes produtos são na ordem de 100 quanto ao risco de exposição (aplicador), pois consideramos que o homem é 100 vezes mais sensível que um camundongo. Para comparar, na construção civil o fator usado fica em torno de quatro. No quesito segurança alimentar, estamos preocupados com a seguinte a pergunta: “comer alimentos onde se usa agrotóxicos é seguro?”. Respondo a vocês com todas as letras “SIM”, é seguro.
Para que vocês entendam este processo e conceitos, é preciso esclarecer algumas métricas. No Brasil, a própria Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) – que divulga dados do monitoramento de agrotóxicos nos alimentos, utiliza estes conceitos: Limite Máximo de Resíduos — LMR — é a quantidade máxima de resíduos permitido, para um determinado produto, em uma determinada cultura. É um valor para o mercado, mas dentro da faixa de segurança toxicológica. Um valor acima do LMR significa que o produto é impróprio para o mercado, mas isto não quer dizer que seja um problema toxicológico (muito pelo contrário, os valores de segurança determinados pelo governo apresentam altos fatores de segurança, igual ao que se pratica no mundo todo).
O outro fator é Ingestão Diária Aceitável — IDA — valor, determinado pela Anvisa, no Brasil, que significa a quantidade máxima de uma determinada substância que pode ser ingerida, por toda a vida, que parece não oferecer risco à saúde humana, à luz dos conhecimentos atuais. É um parâmetro global, definido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e aplica-se a toda substância química que possa ser ingerida, não se restringindo aos defensivos agrícolas. Após esclarecer estes conceitos, chegamos ao ponto de partida: os resultados do PARA (Programa de Analise de Resíduos de Agrotóxicos) são importantes, porém sua amostragem é insatisfatória, pois analisou e divulgou dados de alimentos consumidos no ano anterior e, infelizmente, de forma direcionada e ideológica, colocando receio nas pessoas que vivem nas cidades.
Vejam, quando se fala que, 91,8% das amostras de pimentão, 63,4% do morango, 57,4% do pepino, como exemplo, estão contaminadas ou reprovadas, não significa que você estará intoxicado ou haverá algum dano a sua saúde caso utilize este alimento. No caso do pimentão é mais emblemático ainda: das 91,8% das amostras analisadas nenhuma amostra apresentou LMR acima do permitido. O que ocorreu foi o uso não autorizado deste defensivo para produzir este alimento. E agora, devemos proibir a produção de pimentão, sendo que o próprio governo não autoriza produtos para a cultura? E o produtor está errado em produzir e usar estes produtos?
Atualmente no Brasil, produtores de tomate têm como segunda receita a produção de pimentão, que utiliza praticamente os mesmos defensivos utilizados no tomate, pois as pragas são as mesmas. Além disso, hoje não há no mercado produtos autorizados pelos órgãos responsáveis (MAPA, Anvisa e Ibama), de quem é a culpa? São questões difíceis de serem respondidas, pois estamos falando de pessoas que vivem desta atividade.
Por fim, acredito que devemos pautar estes assuntos com muita serenidade e com dados científicos é importante para o esclarecimento público. Já revisões, opiniões sem conhecimento e dados, levam as pessoas que não conhecem a discriminar ambas as atividades, tanto orgânico como o convencional. Agricultura Orgânica é importante? Claro, o problema é que o Brasil está muito aquém de termos uma agricultura orgânica exemplar, somos um país tropical, onde as pragas destroem as culturas, caso não sejam protegidas, e a função principal do defensivo é proteger as plantas, nada mais. E agricultura convencional é importante? Importantíssima, não vivemos sem alimentos e, de preferência, baratos, por isso rastreabilidade e segurança alimentar são bem-vindas ao nosso dia-a-dia. O que precisamos é fundamentar e esclarecer as pessoas que estão nas cidades de forma cientifica, para não criarem receio em nos alimentarmos. Como dizia um grande professor e médico da Unicamp Sr. Zeferino Vaz (in memorian) “quando a ideologia entra para porta da frente da universidade a ciência sai pela porta dos fundos.” Que levemos isto para nossas vidas.
O autor é Engenheiro Agrônomo