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quarta-feira, 27 de novembro de 2024

Ficha limpa para todos!

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08/06/2012 10h58 – Atualizado em 08/06/2012 10h58

Por Dom Redovino Rizzardo

No dia 27 de abril, acessei um portal de Campo Grande e me deparei com esta manchete: «Vereador condenado por tráfico de drogas reassume vaga na Câmara de Ponta Porã». A notícia vinha “enriquecida” por inúmeros comentários de leitores, decepcionados com a forma como são tratadas a política e a justiça em nosso país: «A culpa não é do “coitado” do vereador/traficante – ou do traficante/vereador: não sei o que se encaixa melhor – mas do povo “desmiolado”, faminto e pobre de cultura que ele representa.

E se sair candidato, a reeleição vai ser certa de novo; cada político representa o povo que o merece». «Se fosse ladrão de galinha, ia pegar prisão perpétua. Mas como não é, já foi absolvido». A crítica mais venenosa vinha no final da lista: «Na Câmara, pelo menos, ele está no lugar certo…». Eu acabara de chegar de Aparecida, onde participara da Assembleia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, ocasião em que publicamos uma mensagem ao povo brasileiro sobre as eleições municipais de outubro.

Conscientes de que a fé definha se não se materializa na ação e que a política é a maneira mais excelsa de viver a caridade – de acordo com o ensinamento do Papa Paulo VI –, a CNBB não quis ficar de braços cruzados ante um evento tão importante e deci-sivo como é a escolha de quem deveria ter como vocação e compromisso o bem comum da coletividade.

Em sua nota, os Bispos lembram que «as eleições municipais têm uma característica própria em relação às demais por colocar em disputa projetos que discutem os problemas mais próximos do povo: educação, saúde, segurança, trabalho, transporte, moradia, ecologia e lazer. Trata-se, por isso, de um processo eleitoral com maior participação da população, já que os candidatos são mais visíveis no cotidiano da vida dos eleitores».

Quanto aos candidatos, a CNBB adverte que «eles precisam ter seu histórico de coerência de vida e discurso político referendados pela honestidade, competência, transparência e vontade de servir ao bem comum. Os valores éticos devem ser o farol a orientar os eleitores, em contínuo diálogo entre o poder local e suas comunidades».

Ao entregar a mensagem à imprensa, Dom Raymundo Damasceno Assis, presidente da CNBB, acrescentou: «A política é uma das forças mais sublimes do exercício da caridade, do amor. Autêntico político é quem se coloca 24 horas por dia a serviço do bem do país, e não quem faz da política um meio de se enriquecer ou de atender apenas aos interesses de seu grupo, exercendo uma política fisiológica e corporativista. Político de verdade é quem pensa no bem da sociedade, especialmente dos mais pobres e necessitados».

E concluiu: «Há um desejo de toda a população de que a Ficha Limpa não seja aplicada só aos candidatos a prefeito e vereador, mas a todos aqueles que passarão a ocupar um cargo. O bom prefeito ou vereador deve escolher também cola-boradores competentes, honestos, capazes de ajudá-lo no exercício de sua função».

Infelizmente, a pesquisa sobre o índice de credibilidade dos brasileiros nas instituições do país efetuada pela Funda-ção Getúlio Vargas no início deste ano, atestou o que todos já sabiam: a política e a justiça despencam no ranking da confiança popular a cada ano que passa: o Poder Judiciário ficou em sexto lugar e o Congresso Nacional em último. (Em primeiro, estão as Forças Armadas e, em segundo, a Igreja Católica).

É verdade: não podemos generalizar, para não cairmos no pecado de quem joga no mesmo caldeirão todos os padres, porque alguns deles se envolvem no crime de pedofilia. Não há nenhuma classe social que não tenha seus heróis e… seus podres! De fato, para só ficar no caso de Ponta Porã, no dia 24 de maio as manchetes dos jornais anunciavam que “Vereador é cassado em Ponta Porã”. Mas não deixa de ser uma dor e uma decepção para a população – sobretudo a mais oprimida e marginalizada – quando percebe com que facilidade juízes e políticos se deixam corromper pela ambição e pelo dinheiro. Não foi por nada que, em 2007, em sua Conferência de Aparecida, os Bispos latino-americanos recorda-ram «que o campo específico da atividade evangelizadora dos cristãos leigos é o complexo mundo da política». Mas, para não nos enganarmos, comecemos… pelo princípio: só vota quem tem ficha limpa!

Ficha limpa para todos!

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