13/06/2012 09h55 – Atualizado em 13/06/2012 09h55
Fonte: Instituto Humanitas Unisinos
“Concretamente, o que está em jogo no Rio é o futuro do planeta. Sem uma solução concreta e duradoura que permita recalibrar nossa atual visão econômica a um nível sistêmico, a escala e o ritmo da mudança dentro em breve poderão levar o planeta a ultrapassar o limiar crítico tornando o desenvolvimento sustentável um sonho impossível onde quer que seja”, escrevem Achim Steiner, subsecretário-geral da ONU e diretor executivo do Programa para o Meio Ambiente, e Pavan Sukhdev, professor da Universidade de Yale, em artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo, 13-06-2012.
Segundo eles, “algumas questões são de tamanha gravidade que transcendem os limites de um país. Por que, por exemplo, o mundo segue um paradigma de crescimento econômico com base na corrosão da própria base dos sistemas que servem à sustentação da vida da terra? Poderá a riqueza ser redefinida e reformulada para incluir o acesso aos bens e serviços básicos, como os que a natureza nos oferece gratuitamente, como ar limpo, clima estável e água potável? Não estará na hora de atribuir ao desenvolvimento humano, à sustentabilidade do meio ambiente e à igualdade social um valor igual ao do crescimento do PIB?”
Eis o artigo.
Muitos especulam a respeito do número de líderes mundiais que estarão presentes à cúpula Rio+20 e do tipo de acordos que serão concluídos: a criação de uma “economia verde” e o estabelecimento de um “arcabouço internacional para o desenvolvimento sustentado”.
O termo “economia verde” foi cunhado há alguns anos, a fim de oferecer uma nova perspectiva por meio da qual fosse possível examinar a relação entre economia e sustentabilidade. Mas ganhou recentemente um novo impulso com as mudanças climáticas que se tornaram realidade, os preços das commodities em alta, e recursos básicos como ar puro, terra para cultivo e água potável se tornando mais escassos. Um conjunto cada vez mais abrangente de dados científicos confirma o que pudemos vislumbrar na Rio há 20 anos.
Os que investiram em uma estratégia econômica e em processos de produção com base em modelos do século 19 e até mesmo 20 estarão compreensivelmente temerosos com a perspectiva de uma mudança de paradigma. Mas alguns segmentos da sociedade civil também estarão preocupados com a possibilidade de que uma transição para uma economia verde afete de maneira negativa os países pobres e os exponha a riscos e a um grau de vulnerabilidade maiores.
Estratégias
Outros questionam a eficácia de estratégias com base no mercado com vistas à sustentabilidade, pois os mercados nunca trazem resultados sociais e ambientais ideais. Concordamos totalmente. As crises sistêmicas nos alimentos, combustíveis e finanças que explodiram em 2008 – e prosseguem em muitos países – têm suas origens num paradigma econômico que não levou em conta o valor da natureza e suas inúmeras contribuições para a sustentação da vida. Como mostra o relatório “Rumo a uma economia verde: caminhos para o desenvolvimento sustentável e a erradicação da pobreza”, a economia de mercado atual resultou na alocação equivocada do capital numa escala sem precedentes.
Na realidade, os graves erros dos mercados – em termos de emissões de carbono, biodiversidade e serviços ao ecossistema – estão acelerando os riscos para o meio ambiente e a escassez ecológica, e solapando o bem-estar dos homens e a igualdade social. É por isso que sua vinculação com a governança e as instituições na Rio+20 é tão importante quanto a transição para uma economia verde.
Uma preocupação dos críticos é que uma transição para a economia verde acabe essencialmente monetizando com a natureza, expondo as florestas, a água potável e a pesca à busca do lucro empreendida por banqueiros e operadores de bolsa, cujos erros contribuíram para desencadear a tempestade financeira e econômica dos últimos quatro anos. Mas será que se trata de uma questão de atribuir um valor à natureza? Ocorre que a natureza já está sendo objeto de compras e vendas, já é explorada e comercializada a preços mínimos que não traduzem seu valor real, principalmente quando se trata da subsistência dos pobres. Em grande parte, isso reflete a existência de mercados não regulados ou inexistentes, que não traduzem os valores que a natureza nos proporciona diariamente.
Futuro
Concretamente, o que está em jogo no Rio é o futuro do planeta. Sem uma solução concreta e duradoura que permita recalibrar nossa atual visão econômica a um nível sistêmico, a escala e o ritmo da mudança dentro em breve poderão levar o planeta a ultrapassar o limiar crítico tornando o desenvolvimento sustentável um sonho impossível onde quer que seja.
Algumas questões são de tamanha gravidade que transcendem os limites de um país. Por que, por exemplo, o mundo segue um paradigma de crescimento econômico com base na corrosão da própria base dos sistemas que servem à sustentação da vida da terra? Poderá a riqueza ser redefinida e reformulada para incluir o acesso aos bens e serviços básicos, como os que a natureza nos oferece gratuitamente, como ar limpo, clima estável e água potável? Não estará na hora de atribuir ao desenvolvimento humano, à sustentabilidade do meio ambiente e à igualdade social um valor igual ao do crescimento do PIB? Nós sabemos que as novas tecnologias e a inovação preparam mudanças na produção de energia, estão surgindo novos mercados de alimentos e água potável, e serviços ecológicos básicos começam a escassear e a ser dotados de um valor monetário.
A Rio+20 é o momento no qual serão compartilhados o conhecimento e a experiência com vistas à transição bem-sucedida para uma economia mais verde e uma maior economia de recursos. O desafio consistirá em reconciliar a realidade econômica emergente com os valores sociais e a ética necessários para gerar uma economia verde equilibrada e abrangente.