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terça-feira, 26 de novembro de 2024

O judeu errante

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28/11/2012 15h09 – Atualizado em 28/11/2012 15h09

Por Dom Redovino Rizzardo, cs

O título se refere a uma lenda muito difundida na Europa medieval, relacionada com um personagem criado pelas tradições orais da cristandade primitiva. Nela, se narrava que Assuero, contemporâneo de Jesus, residia em Jerusalém e exercia a profissão de sapateiro. Sua loja ficava na rua que levava ao Monte Calvário, para onde se dirigiam os condenados à morte por crucificação.

Na manhã de uma sexta-feira, quem passou diante de sua oficina foi Jesus. Alquebrado pelo peso da cruz, ele caiu e ficou estirado no chão. Dirigindo seu rosto ensanguentado para Assuero, pediu-lhe um copo de água. Mas o que recebeu, foi um pontapé e uma imprecação: «Vá para frente, seu condenado! Você não pode parar!». Com um olhar de serenidade e compaixão, Jesus lhe respondeu: «Assuero, o meu peregrinar está para terminar. O seu, porém, se prolongará até a minha volta, no final dos tempos!».

Foi assim que o “judeu errante” iniciou a sua longa trajetória, percorrendo sem parar povoados e ambientes, assumindo os semblantes de todas as raças, numa busca inútil de acolhida e de piedade, que jamais encontrará, por tê-las negado a Jesus.

Na lenda do “judeu errante” está escondido o retrato do homem. Sua sede de felicidade é infinita. É ela que o torna mesquinho ou grande, livre ou escravo. É um molde que precisa ser ocupado, um vazio que busca ser preenchido, um desejo que brota de uma carência que só encontra plenitude em Deus.

O povo de antigamente – no tempo em que a experiência se transformava em sabedoria – cunhou um provérbio para definir os conflitos existenciais: “Saco vazio não para de pé!”. Só fica erguido se está cheio. Mas, cuidado: o que lhe dá firmeza é o conteúdo. Quanto mais sólido, maior a estabilidade! Mais ou menos como acontece com as árvores: somente as que têm raízes profundas enfrentam as tempestades de copa erguida. As demais racham e caem ao soprar de uma aragem…

Foi o que entenderam os dependentes químicos em recuperação na Fazenda da Esperança: eles inventaram e colocaram à disposição do público um boneco de metal, denominado “homem novo”. Ele só consegue ficar em pé quando lhe é colocado em seus braços estendidos o Evangelho, aberto numa página que fala de per si: «Quem ouve as minhas palavras e as põe em prática é uma pessoa sensata, que constrói a sua casa sobre a rocha» (Mt 7,24). Tirando-lhe a luz e a força que brotam da Palavra de Deus, ele perde o equilíbrio e vai para o chão.

O homem não pode esquecer que é imagem de um Deus/Trindade e pretender partir para opções que apaguem o amor – sem o qual ninguém se torna pessoa – ou o substituam por ídolos que nada conseguem senão esvaziá-lo, como são o ter, o prazer e o poder. Quando isso acontece, instaura-se nele um círculo vicioso. É impossível saciar o espírito satisfazendo as emoções e os instintos! Pelo medo de perder o que pensa possuir ou de não conseguir o que lhe parece indispensável, ele é empurrado para a ansiedade e, daí, para a depressão e o suicídio.

No fundo, é a estória do judeu errante que se repete. O caminho que leva à liberdade interior é diferente. Ele foi resumido por Jesus nestas palavras: «Quem quer salvar a sua vida, vai perdê-la; e quem a perde por causa de mim, a encontrará» (Mt 10,39). Sair de si mesmo, deixar de lado os apegos e preconceitos para estabelecer relações baseadas na gratuidade e na verdade: eis a estrada a ser seguida por quem não quer repetir o equívoco de Assuero. Ao se fechar diante da situação dolorosa de Jesus, negando-lhe o apoio solicitado, ele iniciou uma jornada sem volta.

Para o povo nômade da Bíblia, o homem é um migrante em viagem rumo à pátria: «Diante de ti, Senhor, sou apenas um peregrino e um forasteiro, como todos os meus antepassados» (Sl 39,13). Contudo, diferentemente do que aconteceu com o judeu errante, a passagem do cristão pelas estradas do mundo é fonte de graças para quantos têm a alegria de se encontrarem em seu caminho: «Felizes as pessoas que encontram em ti a sua força e decidem no seu coração fazer da vida uma santa viagem! Quando atravessam vales áridos, elas os transformam num manancial. Seu vigor cresce à medida que caminham, até se encontrarem com Deus, em Sião» (Sl 84,6-8). É caminhando que se abrem horizontes e se fortalece a esperança!

O judeu errante

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