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terça-feira, 26 de novembro de 2024

O CIMI tem culpa no cartório?

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15/06/2013 20h11 – Atualizado em 15/06/2013 20h11

*Por Dom Redovino Rizzardo/Bispo de Dourados

No sábado, dia 18 de maio, um jornal de Dourados escrevia: «Em 2012, o Mato Grosso do Sul liderou, com 32 das 51 mortes registradas, o ranking dos Estados com maior número de assassinatos de índios. É o que apontou o “Relatório da Violência contra os Povos Indígenas”, do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), ligado à Igreja Católica. Só que essa entidade falseia com a verdade ao colocar as mortes por brigas movidas a cachaça e por outros conflitos dentro das aldeias como sendo por disputa por terras com produtores rurais».

Infelizmente, preciso admitir que não foi mera coincidência o assassinato de dois jovens índios, perpetrado nas cercanias de Dourados na noite daquele mesmo dia, e de outros dois, nos sábados seguintes, vítimas de brigas suscitadas pelo consumo de álcool. Tais mortes falam da violência que atingiu todos os segmentos da sociedade brasileira, inclusive as aldeias indígenas.

Em sua edição de abril de 2013, a revista “A Nova Democracia” garante que «nos últimos nove anos, mais de 270 lideranças Guarani-Kaiowá foram assassinadas no Mato Grosso do Sul por bandos de pistoleiros a soldo do latifúndio». Não tenho condições de checar essas informações. Mas, se não me falha a memória, no território formado pelas atuais Dioceses de Dourados e Naviraí – onde se concentra a quase totalidade dos Guarani-Kaiowá do Mato Grosso do Sul – foram oito os indígenas assassinados desde o ano de 2001, quando aqui cheguei: em 2003, Marcos Veron; em 2005, Dorival Benitez e Dorvalino Rocha; em 2007, Kuretê Lopes; em 2009, os irmãos Jenivaldo e Rolindo Vera; em 2011, Nísio Gomes; em 2013, Denilson Barbosa.

Por sua vez, no mesmo período, os indígenas revidaram e mataram três “brancos”: em 2006, os policiais Rodrigo Pereira Lorenzatto e Ronilson Bartie e, em 2013, o produtor rural Arnaldo Alves Ferreira.

Todas essas mortes aconteceram em conflitos gerados por índios que lutam para reaver terras que, no passado, lhes pertenciam, e por agricultores que as defendem porque as adquiriram e têm a lei a seu favor. E, como acontece nas tensões sociais, o importante é… descobrir o culpado! O qual, em nosso caso e na mente de muitas pessoas, é o Governo, mediante a Fundação Nacional do Índio (FUNAI), e a Igreja Católica, através do Conselho Indigenista Missionário (CIMI).

Em relação ao CIMI, foi o que fez a própria Polícia Federal no dia 20 de maio, ao explicar os motivos que a impediam de efetuar a reintegração de posse numa fazenda de Sidrolândia, ocupada por Terenas: «As diversas reuniões ocorridas com lideranças indígenas em busca da solução pacífica da crise não chegaram ao resultado esperado especialmente em razão da presença de indivíduos estranhos à comunidade indígena, que se apresentam como representantes do CIMI, apontados pelos próprios índios como os motivadores do agravamento da ocupação e estimuladores da desobediência à ordem judicial vigente».

Como aconteceu em outras ocasiões, também desta vez a acusação foi desmentida pelos interessados, feridos em sua autoestima: «Os índios estão lá por vontade própria. Não é por incentivo do CIMI nem de ninguém. Tudo é decidido por nós!». De fato, culpar os cinco ou seis membros que integram o CIMI no Estado por um problema de tamanha envergadura é atribuir-lhes um poder excessivo e desviar a atenção do seu verdadeiro foco.

Nascido em 1972 e vinculado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, o CIMI é formado por cidadãos comprometidos com a defesa dos povos indígenas. Como a sociedade civil, também a Igreja Católica se empenha pelo bem-estar social através do serviço prestado por seus membros. Nela, todos têm voz e vez garantidas. Inclusive o CIMI. Como qualquer outro organismo eclesial, ele não tem a pretensão de expressar a opinião de toda a Igreja. Pode acertar ou errar, da mesma forma que as pessoas que o contestam. Talvez seus relatórios sejam parciais e tendenciosos e sua metodologia, mais polêmica do que propositiva. Mas, se os agricultores podem contar com a força política, jurídica e econômica oferecida por advogados e organizações, aos índios – mais vulneráveis e indefesos – não cabem as mesmas prerrogativas?

Ninguém se iluda: o conflito jamais cessará enquanto cada grupo olhar apenas para seus interesses. Estamos todos no mesmo barco: ou nos salvamos juntos ou pereceremos todos… Haverá espaço para todos se houver justiça para todos!

Dom Redovino Rizzardo/Bispo de Dourados

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