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domingo, 6 de outubro de 2024

Voz das ruas encobre uma maioria silenciosa?

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01/07/2013 16h49 – Atualizado em 01/07/2013 16h49

Fonte: Brasil 247

Com um pouco de má vontade, mas com dados absolutamente reais, é possível dizer, sem medo de errar, que em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Recife, Salvador e Belo Horizonte manifestações com, respectivamente, 1,3 milhão, 700 mil, 500 mil, 380 mil, 300 mil e 270 mil pessoas equivalem, numericamente, o mesmo que uma figura institucional: o deputado federal. No caso, o mais votado em cada uma dessas capitais nas eleições de 2010.

Em São Paulo, Tirica obteve 1,35 milhão de votos, pelo PR. No Rio, Anthony Garotinho conseguiu 694 mil votos, também pelo PR. Em Porto Alegre, Manuela D’Àvila, do PC do B, foi contemplada com 482 mil votos. Ana Arraes (PSB) foi sufragada por 387 mil votos recifenses. Em Salvador, ACM Neto (DEM) teve 328 mil votos. E o tucano Rodrigo de Castro se elegeu com 274 mil votos em Belo Horizonte.

Hipoteticamente, cada um desses deputados poderia obter números iguais aos registrados nos protestos e marchas se convocasse uma assembleia para discutir o que desejasse – e viesse a ser atendido apenas pelos que votaram nele. Funcionaria como uma empresa que convoca todos os acionistas para uma deliberação.

O exercício de comparação é positivo para se observar com olhar crítico – e, neste sentido, corajoso – os eventos de massa dos últimos quinze dias. Depois de um primeiro momento de surpresa e conflitos, dos quais resultaram cerca de uma centena de prisões em todo País, apontando para um número ínfimo de vândalos, em relação ao todo dos manifestantes, pode-se ter chegado rapidamente a um momento de rearrumação – e renovação.

Greve geral fracassou – Como iniciativa geral, a conclamação, pela via da internet, de uma greve geral nesta segunda-feira 1, fracassou redondamente. Ou, porque não deu certo, o que houve foi apenas um rumor?

Depois de um pequeno protesto em frente ao Maracanã, no domingo 30, horas antes da partida final da Copa das Confederações, quando outra vez um pequeno grupo de arruaceiros entrou em choque com a Polícia Militar, sem o registros de feridos ou presos, o que ocorreu na segunda-feira 1 foi um protesto de caminhoneiros. Na carona da suspensão do aumento nos pedágios de São Paulo, determinada pelo governador Geraldo Alckmin, integrantes da categoria fecharam com seus caminhões as rodovias Anchieta, Raposo Tavares e Castelo Branco, pedindo para serem recebidos pelo titular do Palácio dos Bandeirantes. Em troca, suspenderiam as barreiras.

Sobre os próximos passos, passou a se tornar difícil, nos últimos dias, entre a população das grandes cidades, distinguir informação real de boataria. Não se sabe bem ao certo quando haverá, efetivamente, um novo grande protesto ou o movimento que, anunciado, não passa da expressão da vontade de um e outro, sem dimensão para convocar multidões.

Após a série de suspensões de reajustes de ônibus em praticamente todas as capitais do País, o Movimento Passe Livre, organização que logrou arregimentar as primeiras multidões contra o valor das tarifas e a qualidade dos serviços, decidiu suspender o movimento. Em seguida, porém, suas lideranças resolveram manter a mobilização, mas desde então, sobre a questão dos transportes coletivos, apenas uma manifestação no Rio, na semana passada, logrou sucesso de público.

Decisões no fogaréu – Em torno da Copa das Confederações, encerrada com a vitória da Seleção Brasileira no domingo 30, os violentos protestos dos primeiros jogos arrefeceram, sem distúrbios no sábado, dia do jogo semifinal em Salvador. No Rio, um fiasco, com as mais de 70 mil pessoas que pagaram ingresso para ver a final tendo cantado o Hino Nacional não apenas antes do início da partida, mas, ao menos uma vez, durante o jogo. O time venceu, é certo, e as autoridades não compareceram. Mas também é certo que não houve, quanto mais cenas de quebra-quebras em protesto.

O saudável resultado das manifestações ocorridas até aqui, com as espetaculares vitórias políticas representadas na redução tarifária e nas decisões tomadas pelo Congresso, como a derrubada da PEC 37 e a destinação dos royalties do Pré-Sal para os setores da Educação e da Saúde, pode ter aplacado o ímpeto das massas.

A questão real, mais que o tamanho das próximas manifestações, é dar a elas, ou não, legitimidade para pautarem as instituições. O que parece ser, nas imagens da tevê, um país nas ruas, também sugere outro país, muito maior, dentro de casa. É a dicotomia entre a minoria ruidosa e a maioria silenciosa que chegou para oxigenar a política brasileira. Refletir sobre os dois lados dessa mesma moeda soa como bem mais adequado do que aliar-se à corrente e, ao sabor dos acontecimentos imediatos, tomar decisões em meio ao fogaréu.

Voz das ruas encobre uma maioria silenciosa?

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