10/09/2013 11h00 – Atualizado em 10/09/2013 11h00
Por Marcus Eduardo de Oliveira
A Ciência Econômica “criou” um tipo de crescimento baseado no consumo destrutivo da natureza e, como resultado, nos entregou um “produto final” chamado aquecimento global – o sintoma mais claro da crise ambiental, resultado de um processo crescente de degradação entrópica da natureza (de matéria e energia) gerada pelo processo de produção industrial que destrói os ecossistemas produzindo emissões crescentes de gases de efeito estufa (GEE).
Atrelado a isso, têm-se que o processo econômico produz calor pelo consumo de natureza, que se degrada em calor tal qual descreve a lei da entropia. Assim, uma economia que entra acelerando na rota do crescimento contínuo produz mais calor que é aprisionado pelo efeito estufa, aquecendo a atmosfera, provocando na ponta final catástrofes ecológicas e a destruição socioambiental.
Estudos realizados mostram que nos últimos 160 anos a temperatura média da Terra sofreu uma elevação de 0,5 ºC e, se persistir a atual taxa de poluição atmosférica (no mundo, a cada minuto, 10 mil toneladas de dióxido de carbono são lançadas na atmosfera), prevê-se que entre os anos 2025 a 2050 a temperatura sofrerá um aumento de 2,5 a 5,5 °C. As principais conseqüências seriam a alteração das paisagens vegetais, que caracterizam as diferentes regiões terrestres, e o derretimento das massas de gelo, provocando a elevação do nível do mar e o desaparecimento de inúmeras cidades e regiões litorâneas. Na Antártida, cerca de 3 mil Km2 de geleiras viraram água entre 1998 e 1999. Dezenas de ilhas da Oceania, entre elas Fiji, Nauru, Tuvalu e Vanuatu, correm o risco de submergir com o aumento do nível dos oceanos. No Recife, capital de Pernambuco, o contorno da praia está encolhendo ano a ano.
O fato real é que para “custear” o crescimento econômico promove-se a destruição ecológica. Para fazer a economia se expandir, mina-se as bases de sustentabilidade destruindo os frágeis equilíbrios ecológicos dos quais depende a conservação dos ecossistemas e da própria vida. Isso explica o fato de a ciência econômica “dominar” o mundo através do automatismo do mercado, tratando a natureza como mero objeto de trabalho.
Lamentavelmente, o planeta não “gira” regido pelas leis do universo e da natureza, mas pelas ordens impostas no mercado global. Isso resulta que estamos submetidos a uma racionalidade de um poder concentrador da riqueza, gerador de desigualdades e insustentabilidade.
A economia neoclássica (a economia tradicional) não faz nenhuma “força” para entender que a degradação ambiental não se deve a causas naturais; sua existência está relacionada às ações antrópicas. Não obstante, como bem apontou o economista mexicano Enrique Leff, “os tomadores de decisões continuam dando mais importância aos imperativos do crescimento econômico e à estabilidade macroeconômica nas políticas de desenvolvimento sustentável que aos estudos prospectivos sobre o risco ecológico e o desencadeamento do aquecimento global”.
Essa economia neoclássica não pode desconsiderar um fato primordial: a economia se alimenta da natureza; o processo econômico ao se “alimentar” de matéria e energia transforma esses recursos em calor, respeitando assim a segunda lei da termodinâmica (entropia). Com o avanço do processo econômico avança-se junto à concentração de GEE.
Até antes da Revolução Industrial essa concentração de gases de efeito estufa na atmosfera manteve-se abaixo dos 280 ppm (partículas por milhão). Atualmente, os níveis de CO2 na atmosfera equivalem a 430 ppm. O otimismo fica por conta do seguinte: se forem tomadas medidas a tempo, em 2050 poderá ocorrer um equilíbrio entre 450 e 550 ppm.
Até chegarmos lá, cabe pensar e repensar seriamente em “refundar” a economia sobre suas bases ecológicas ajustando os “mecanismos” da economia às leis da termodinâmica, fazendo com que a economia neoclássica deixe de negar a contribuição dos processos ecológicos para a produção e passe a “entender” definitivamente que o crescimento não é a solução, mas sim o problema.