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terça-feira, 26 de novembro de 2024

Não me diga como ser feminista

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13/12/2013 14h36 – Atualizado em 13/12/2013 14h36

Por Olga

Na sexta-feira passada, mesmo dia em que tinha ingressos para o show da cantora Beyoncé, me recomendaram a leitura do artigo All Hail to the Queen? (Todos saúdam a rainha?), da Bitch Magazine*. A autora Tamara Winfrey Harris tenta responder a seguinte pergunta: “o que as nossas percepções sobre o feminismo de Beyoncé dizem sobre nós mesmas?”. Para isso, reúne um punhado de críticas sobre a postura da artista com relação ao tal Girl Power. E, olha, não são poucas. Elas vão desde posar de forma provocante para revistas, usar o sobrenome do marido para batizar a nova turnê (The Mrs. Carter Show), rebolar no palco, tingir o cabelo de loiro, pedir que homens “put a ring on it” (coloque um anel no dedo)… “Como alguém assim pode ser feminista?”, as pessoas se perguntam.

Mais tarde, durante o show, ouvia Beyoncé falar sobre segurança, beleza, garra e suas vitórias em um mercado ainda tão predominantemente masculino. Vi Beyoncé dançar por 2h30 em cima de um salto (!), confortável em seu corpo, confiante em seu talento, sem vergonhas ou inibições, ao som da banda só de meninas formada por ninguém menos do que ela mesma. “Como alguém assim NÃO seria feminista?”, eu me pergunto.

Essa força feminina pode aparecer de várias formas. E eu acredito, de verdade, que também é possível vê-la em cima de um palco, vestida de Givenchy. Sem preconceitos.

A questão, claro, vai além da Beyoncé. Ela afeta também nossas vidas, nossa forma de encarar o mundo, de julgar nós mesmas e outras mulheres. Fomos acostumamos a lidar com imagens femininas com uma só face, sejam elas personagens de TV, as princesas dos desenhos e até heroínas da ficção ou vida real. Mas somos mais complexas do que isso – não pelo fato de sermos mulheres, mas sim por simplesmente sermos seres humanos. E quando essas “complexidades” afloram, achamos que há algo de errado conosco. Ou algo de errado com outras mulheres.

Se luto por direitos iguais entre homens e mulheres, não posso pegar o nome do meu marido quando casar? Se quero ser uma profissional respeitada, não posso sair cedo do trabalho para jantar com meus filhos? Se sou feminista, não posso gostar de moda? Se exijo respeito dos homens – nas ruas, no trabalho – não posso usar roupas curtas? Se luto pela independência feminina, não posso escolher ser dona de casa?

Por que não?

O que me mais me surpreende é que muitas dessas limitações, imposições do que se deve ou não fazer, partem de nós mesmas. Um exemplo é o texto A Derrota do Feminismo, em que a escritora Katie Roiph critica mulheres que usam fotos dos filhos no perfil do Facebook por considerar “anulação de personalidade”. “Se, do além-túmulo, Betty Friedan [ativista feminista] fosse analisar como as mulheres acima dos 30 se comportam no Facebook, temo que ficaria muito decepcionada conosco”, diz.

Por quê?

O problema ao meu ver era quando a maternidade era forçada às mulheres. Hoje, felizmente, ela é uma escolha. Tanto a recusa de se ter filhos, quanto a vontade de exibi-los. Para que queimar tantos sutiãs décadas atrás pedindo liberdade se, hoje, nos deparamos com um feminismo que também quer limitar as escolhas das mulheres?

Um dos comentários mais sensatos que li sobre o “A Derrota do Feminismo” veio de um homem: “no meu perfil do Facebook agora tem uma foto do meu filho. Em uma busca rápida, não achei nenhum comentário na internet condenando isto. Pelo que entendi do texto acima e desta pequena pesquisa, eu posso fazer isto porque sou homem. Macho pode, mulher não?“.

A foto do filho pode representar muitas coisas, inclusive a tal anulação de personalidade. Mas será que precisamos de mais pessoas – de mais mulheres! – dizendo como devemos nos portar? Somos muito complexas para seguirmos um caminho apenas. Queremos várias coisas ao mesmo tempo e, por isso, tentam nos dizer que nossas vontades são paradoxais. Não são. O feminismo deve lutar para que as mulheres possam ter mais escolhas. E garantir que elas tomem suas próprias decisões sem qualquer necessidade de pedir desculpas por isso. Igual Mrs. Carter.

*obrigada, Camilla Costa

Não me diga como ser feminista

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