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domingo, 6 de outubro de 2024

Redações têm nova geração de jornalistas de favelas

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26/02/2014 13h48 – Atualizado em 26/02/2014 13h48

Fonte: Brasil 247

A visão estereotipada da grande mídia sobre os espaços populares pode estar no fim. Com a democratização do acesso ao ensino superior, através de ações afirmativas como as cotas raciais e programas como o Prouni, muitos moradores de favelas e bairros populares estão cursando jornalismo, e paulatinamente a quantidade de jornalistas negros e e de origens populares está aumentando nas redações. Em matéria para o Viva Favela, os repórteres comunitários Andressa Cabral e Rodrigues Moura recolhem depoimentos desta nova geração de estudantes que querem contribuir para um olhar mais diversificado da cidade nos meios de comunicação. Leia abaixo a matéria na íntegra.


Por Andressa Cabral e Rodrigues Moura, para o Viva Favela

Favela ganha espaço nas redações

A democratização do ensino superior, impulsionada pelas políticas públicas de educação, vem redesenhando o perfil de muitas profissões, antes marcadas por certo elitismo. É o caso do jornalismo. Hoje, as redações refletem um pouco mais a diversidade da sociedade brasileira, tendo incorporado maior número de profissionais oriundos de favelas e periferias. Os estudantes de jornalismo Bruno Queiroga (23) e Monique Leal (20), moradores do Complexo do Alemão, e Marcelo Resende (21), do Jacarezinho, fazem parte desta nova geração de profissionais, prontos para abraçar a carreira. À Reportagem, eles contam sobre as motivações que os levaram a escolher o curso de jornalismo e apostam que o seu diferencial será justamente este conhecimento, mais diversificado, da cidade.

“Sempre contribuí para mostrar a favela por outro olhar. Acredito que fiz isto na faculdade, mostrando aos próximos as potencialidades da favela e de um morador de lá”, afirma Bruno, estudante do 8º período das Faculdades Integradas Paulo Afonso (FACHA). O jovem diz que escolheu a profissão para contar novas histórias e aguçar o senso crítico das pessoas. Mas acredita que sua própria trajetória já contribui para transformar a visão de seus colegas de faculdade e de estágio. “O fato de eu vir da favela permitiu que outras pessoas vissem, de maneira natural, pessoas faveladas em um ambiente acadêmico sem complexos por isso. Quem veio da favela e da periferia é capacitado o suficiente e pode mostrar outros lados da história, que a grande mídia normalmente não apresenta”, afirma.

Já Monique Leal, estudante do 7° período da UNISUAM, aponta que o curso universitário alterou seu próprio olhar, permitindo que enxergasse o mundo e, principalmente, a favela por um novo ângulo. “O jornalismo mudou muito o jeito de eu ver a favela. Antes (da faculdade) eu só entrava e saia, sem perceber nada. Agora, quero saber de toda a história, quero buscar informações que antes não importavam para mim, como a trajetória da evolução da minha comunidade”, comenta.

Todos concordam que o maior obstáculo para o exercício da profissão vem da barreira do ensino superior, mesmo se o diploma não é mais uma exigência desde 2009. A falta de incentivo, e a necessidade de trabalhar cedo, complicam o desempenho nos estudos. “A maioria dos moradores de favela não estão acostumados a ver seus familiares ingressando na faculdade. Uns começam a trabalhar muito cedo e outros seguem caminhos negativos”, conta Monique. Marcelo Resende, estudante do 4° período da UERJ, concorda com este ponto. “Os problemas específicos de moradores de favela são os poucos exemplos de que estudar pode proporcionar a alguém uma situação de vida melhor no futuro, seja ainda morando nela ou em outro lugar”, diz.

Diversificação traz mais objetividade

Bruno observou na prática a mudança no perfil sociocultural do jornalista. “No estágio, o pessoal mais antigo da redação vem de bairros como Copacabana, Laranjeiras, Niterói… Hoje, a quantidade de gente da favela dentro das faculdades de jornalismo é bem maior”, revela. A jornalista Tássia di Carvalho, do Jornal O Dia, concorda com esta percepção. Moradora de Belford Roxo, na Baixada Fluminense, ela vivenciou ao longo de sua carreira a inclusão de pessoas de periferia nas redações e convive com essa mistura na redação do seu jornal. “O jornalismo mudou muito desde que cursei a faculdade, em 2005. Hoje, a quantidade de negros, moradores de favelas e da Baixada no curso é bem maior. Aqui na redação temos jornalistas de vários locais, como Bangu, Belford Roxo e Nova Iguaçu, por exemplo”.

Para Tássia, é de extrema relevância a entrada de pessoas de favelas nas redações, pois elas contribuem muito para a produção de trabalho. “As pessoas das favelas tem muito a comunicar após décadas de um silêncio obrigatório. E em todos os lugares é importante ter uma miscigenação. Pessoas diferentes trazem olhares diferentes que podem enriquecer e acrescentar à equipe”, garante.

Para Tássia, é de extrema relevância a entrada de pessoas de favelas nas redações, pois elas contribuem muito para a produção de trabalho. “As pessoas das favelas tem muito a comunicar após décadas de um silêncio obrigatório. E em todos os lugares é importante ter uma miscigenação. Pessoas diferentes trazem olhares diferentes que podem enriquecer e acrescentar à equipe”, garante.

Quem sai ganhando com esta diversificação, é o chamado princípio da objetividade, uma vez que a discussão é ampliada dentro das redações pela multiplicidade de perfis. “Antes de eu ser um jornalista, sou um cidadão, que luta para desconstruir certos pensamentos pré-definidos, seja ele racial, político, social, sexual, econômico, etc. Temos que lutar contra o senso-comum”, concluiu Resende.

Hoje, a quantidade de negros, moradores de favelas e da Baixada no curso é bem maior

Monique Leal

Tassia Di Carvalho

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