29/05/2014 16h28 – Atualizado em 29/05/2014 16h28
Por Tony Magliano /Publicado em National Catholic Reporter, em 26-05-2014
““Em vez de despejar dinheiro nos bancos, [o governo Obama] poderia ter tentado reconstruir a economia de baixo para cima (…). Poderíamos ter reconhecido que quando os jovens estão sem trabalho, as suas habilidades se atrofiam. Poderíamos ter nos certificado de que cada jovem estivesse na faculdade, num programa de formação ou num emprego. Em vez disso, deixamos o desemprego entre eles superar em duas vezes a média nacional. As reduções na cobrança de impostos dos muito ricos feitas pelo presidente George W. Bush em 2001 e em 2003, bem como suas guerras de muitos trilhões de dólares no Iraque e Afeganistão, esvaziaram o cofrinho, enquanto exacerbaram a grande divisão”, afirma Tony Magliano, jornalista, citando o Prêmio Nobel de Economia, Joseph E. Stiglitz, em artigo publicado pelo National Catholic Reporter, 26-05-2014. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Eis o artigo.
Consideremos o seguinte. De acordo com as Nações Unidas, cerca de 1.2 bilhão de pessoas vivem na extrema pobreza ao redor do mundo. Água potável e saneamento, alimentação nutritiva adequada, um trabalho seguro com um salário justo, cuidados médicos e um lugar decente para chamar de casa são sonhos não realizados destes nossos irmãos e irmãs.
A cada dia eles precisam, de alguma forma, encontrar uma maneira para sobreviver com menos de 1,25 dólar. Mesmo nos países mais pobres, é quase impossível sobreviver com esta quantia. E, na realidade, muitos não conseguem este feito.
A cada dia, aproximadamente 21 mil seres humanos morrem de fome e doenças relacionadas a ela. E segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância, cerca de 300 milhões de crianças vão dormir famintas todas as noites.
De acordo com a organização cristã antipobreza “Bread for the World” [Pão para o mundo, literalmente], mais de 48 milhões de americanos – incluindo 15.9 milhões de crianças – não têm alimentos nutritivos suficientes para comer. E mais de um em cada cinco vivem na pobreza.
Entretanto, no começo deste ano o Congresso [americano] reduziu o Programa de Assistência à Nutrição Suplementar a americanos pobres a 8 bilhões de dólares durante um período de 10 anos.
Em tese, isso irá reduzir os orçamentos alimentares para as famílias afetadas em cerca de 90 dólares mensais. Isso representa uma grande redução para famílias com renda baixa.
A organização está preocupada com uma lei de reautorização da Guarda Costeira aprovada recentemente pela Câmara Federal – incluindo uma provisão que exigiria 75% de toda a ajuda alimentar a ser transportada em navios do país – que poderá ser aprovada pelo Senado. No intuito de pagar por esta provisão cara de transporte, os fundos alocados para a compra de alimentos seriam reduzidos, pondo consequentemente em risco 2 milhões de pessoas famintas.
Por favor, envie um email e telefone para seus senadores americanos, pedindo-lhes para se oporem a esta proposta e, em vez disso, apoiarem uma legislação que permita compras locais e regionais próximas dos lugares de crise humanitária ou de projetos de desenvolvimento.
Numa reunião ocorrida em 9 de maio no Vaticano com o secretário geral Ban Ki-moon, o Papa Francisco instou os líderes mundiais a se comprometerem na construção de um campo de atuação muito mais nivelado entre os ricos e os pobres.
O papa os incentivou a desafiarem “todas as formas de injustiça” e a resistirem à “economia de exclusão”, a “cultura do desperdício” e a “cultura de morte”, que “tristemente correm o risco de se tornarem aceitas de forma passiva”.
Ao apontar a causa da desigualdade de renda, o papa pediu uma “redistribuição legítima dos benefícios econômicos do Estado”.
Mas a maioria dos políticos e das pessoas ricas nos Estados Unidos, e em grande parte do mundo, se opõe fortemente em relação a qualquer “redistribuição legítima dos benefícios econômicos do Estado”.
Num artigo de opinião publicano no New York Times intitulado “Inequality Is Holding Back the Recovery” [A desigualdade está atrasando a recuperação econômica], Joseph E. Stiglitz, Prêmio Nobel em economia, partilhou a sua profunda preocupação a respeito da divisão cada vez maior entre os 1% mais ricos e os demais de nós:
“Em vez de despejar dinheiro nos bancos, [o governo Obama] poderia ter tentado reconstruir a economia de baixo para cima (…). Poderíamos ter reconhecido que quando os jovens estão sem trabalho, as suas habilidades se atrofiam. Poderíamos ter nos certificado de que cada jovem estivesse na faculdade, num programa de formação ou num emprego. Em vez disso, deixamos o desemprego entre eles superar em duas vezes a média nacional. As reduções na cobrança de impostos dos muito ricos feitas pelo presidente George W. Bush em 2001 e em 2003, bem como suas guerras de muitos trilhões de dólares no Iraque e Afeganistão, esvaziaram o cofrinho, enquanto exacerbaram a grande divisão.”
Stiglitz escreveu que o “compromisso recém-descoberto de disciplina fiscal – consistindo de impostos baixos para os ricos e, ao mesmo, de cortes nos serviços públicos para os pobres – é o cúmulo da hipocrisia”.
Logo após a sua eleição, o Papa Francisco disse numa reunião com cerca de 5 mil jornalistas: “Como eu gostaria de uma igreja pobre e para os pobres”.
Sim, é verdade. Pois se uma igreja mais humilde, mais simples em sua forma de viver não ficar, firmemente, ao lado dos pobres, então quem ficará?