15/05/2015 10h57 – Atualizado em 15/05/2015 10h57
Por R. Ney Magalhães
A chegada da Companhia Americana de Fomento Econômico a CAFE ou “cafetalera” aqui na fronteira em meados de 1950, revolucionou a economia e iniciou o processo de desenvolvimento da agricultura e pecuária do Norte Paraguayo. As enormes e modernas máquinas “topadoras” -tratores de Esteira- abriram as estradas em meio às magnificas e exuberantes florestas ricas em Cedros, Ipês, Perobas, Marfim e outras variedades nobres, muito cobiçadas pelo mercado europeu e norte-americano.
Milhares de hectares foram derrubados e preparados para o cultivo do café diziam eles. Milhões de “mudas” foram produzidas com a melhor e mais moderna tecnologia.
Apesar da iniciativa e daquele esforço na produção de café, na época com elevados preços no mercado mundial, até hoje tenho minhas dúvidas sobre o real interesse daqueles grandes empresários estrangeiros, uma mescla de gringos americanos. Não sei se eles desejavam as madeiras de Lei ou de fato queriam produzir café.
Muitos empregos foram gerados, muitos dólares entravam no Pais e a mudança nas atividades primarias aqui praticadas foram efetivamente alteradas com o uso de máquinas motorizadas. O machado foi substituído por modernas motosserras. A carrêta de bois foi trocada pelos tratores.
As terras e matas foram rasgadas por topadoras de primeira geração que abriram carretêras, revitalizando os “calejons” das importantes colônias criadas pelo “febrerismo social” que poucos anos atrás havia governado o País. As fertilíssimas terras das fraldas da Cordilhera del Amambay, desde a área fronteiriça com a Colonia Dutra, passando pelo Cêrro Quatiá, Lorito Picada, englobando o Itapopo e alcançando o Aquidaban e a vasta região do Estrêla foram tomados pela avalanche de progresso que obrigatoriamente exigia a supressão daquelas virgens florestas.
As geadas sazonais desta região fronteiriça não combinam com a cultura do Café. Será que a grande empresa americana não sabia disso? Enquanto as mudinhas de café iam se desenvolvendo e os dólares chegando, as madeiras nobres alcançavam os mercados da Europa e da América do Norte.
Chegou uma grande geada e os cafezais já plantados foram dizimados. A CAFE pediu a falência. Seus Bens foram para hasta pública e mais um sonho fronteiriço foi desfeito, ou adiado.
Aquelas áreas de matas destocadas foram então transformadas em pastagens artificiais, e a alta fertilidade daqueles solos proporcionou a implantação de uma pecuária altamente produtiva.
Em 1975, do lado de cá aconteceu a edição da primeira exposição agropecuária, um evento que marcou a economia ganadera dos dois lados da fronteira. Meus amigos Senador Paulino Espindola, Marco Paredes, Javier Alvares, Intendente Izácio Ortiz Gonzales, então próceres políticos do governo Strossner patrocinando a aproximação do Ministro da Defesa, General Marcial Samaniego com a EXPO, valorizaram a pecuária do Departamento del Amambay. A comercialização internacional de reprodutores Zebu PO transformou a então pecuária Tucura em rebanho precoce e produtivo.
A agricultura do agronegócio, em 1968/69 iniciada pelos empresários/pioneiros Dionizio e Domingos Martin Martin ocupou as várzeas próximas de Pedro Juan e serviu de vitrine e de exemplo para a instalação do plantio de Soja em todas as terras da cafetalera e de grande parte do Paraguay, assim como incentivaram as primeiras culturas mecanizadas do Sul do então MS.
Sempre que transito pelas estradas estaduais de terra do MS, pomposamente denominadas de Rodovias MS- recordo dos tempos da CAFE, que em dias de chuva colocavam “cancelas” ou obstáculos iguais aos usados pelo MST em seus movimentos reivindicatórios, sendo que a finalidade era proibir o transito de carros e caminhões afim de que estes não danificassem os trechos. Estas lembranças me motivaram a editar esta crônica, Estradas Interditadas ou Rutas Clausuradas. Após dezesseis anos de governos do Zeca e do Pucinelli aqui pelo sul do MS somos produtores rurais sem estradas.
Os últimos aterros construídos em estradas de terra foram realizados em 1980/81 e 82. Os insumos e as safras estão transitando por buracos, atoleiros, enxurradas e pontes sem segurança. Hoje por exemplo está chovendo e os caminhos estão intransitáveis.
Com o “novo Governo Estadual” já estamos também perdendo a paciência.