03/06/2015 08h36 – Atualizado em 03/06/2015 08h36
Conversa nada fiada
Por Odil Puques
“Era de tarde; o crepúsculo descia sobre a
crista das montanhas e a natureza como que se recolhia
para entoar o cântico da noite; as sombras
estendiam-se pelo leito dos vales e o silêncio tornava
mais solene a voz melancólica do cair das cachoeiras.
Era a hora da merenda em nossa casa e pareceu-me
ouvir o eco das risadas infantis de minha mana pequena!
As lágrimas correram e fiz os primeiros versos
da minha vida, que intitulei – “As Ave-Marias: A
saudade havia sido a minha primeira musa.”
(Cassimiro de Abreu).
Bléim, Bléim, Bléim.
– Sete e meia já. Corre menino, anda vai lavar esta cara, põe a
roupa, calça teus kichuetes, que o Pe. Bonfilho, já está na sacristia para
começar a missa.
– Mãe, não acho minhas calças.
– Tá na cômoda guri, onde mais seu cabeça de vento!?
– Não sei o que tá acontecendo, anda desmemoriado, acho que
é verme, amanhã mesmo enfio uma erva de santa-maria com leite guela
abaixo, depois levo pra Dona Servina benzer.
Bléim, Bléim, Bléim.
– Meus filhinhos estas palavras, lhes digo para que não pequeis…
Olha, ele!!! Tá marrom ali, cabeça baixa, por que tá pregado???
Mas não é o filho de Deus??? Por que Ele deixou que isso acontecesse???
Ah se fosse comigo, dava um sopro só, fazia cair um a um, mandava
os anjos virem com aquelas espadonas e não deixava sobrar um,
se Deus pode tudo, se criou o mundo como não poderia mandar socorrer
o seu filho??? Não tem dó não??? É de cortar o coração, saber
que sofreu tanto assim antes de morrer, tão bonzinho que ele era.
– Um certo dia apareceu, um jovem Galileu. Ninguém podia,
imaginar, que alguém pudesse amar, do jeito que ele amava…
E esse teto ??? Do que será que é feito ??? De pedaço de nuvem
??? Só pode ser, vai ver o Pe. Bonfilho conhece o tal do Arcanjo Gabriel
e trouxe umas nuvenzinhas pra colocar no teto da igreja. Azulzinho.
Azulzinho…
– Presta atenção no padre guri.
– É por isso que lhes digo, ele morreu por todos nós, para nos
salvar dos pecados, ele o filho de Deus, morreu como homem, em pról
da humanidade, assim estava escrito…
Mas tinha que morrer??? Porque simplesmente não salvou todo
mundo assim de uma vez??? Vapt e pronto. Todo mundo faceiro, aqui
na terra e lá no céu. Tadinho dele, ainda tiraram sarro dele, deram
vinagre, ah se fosse comigo…
– Ave Maria mãe de Jesus, o tempo passa não volta mais, tenho
saudades daquele tempo, que eu te chamava de minha mãe…Ave Maria….
Essa eu não entendi. Porque tem saudades??? Porque não chama
de mãe até agora??? Fala só, uéi…Mãe, Maria, simples, ela tá ali,
bem na frente, com um neném no colo, olhando pra gente. Engraçado,
em qualquer lugar que eu sento na igreja, ela fica me olhando, me
manguiando, eu que não sou besta de aprontar alguma aqui. Aposto
que ela nem imaginava, que o menino ia morrer depois, ia sofrer daquele
jeito e ainda pregaram os pés dele, meu Deus, que dor.
– E mataram a Jesus de Nazaré, que tinha tanto amor….
– Vamos em paz e que o Senhor vos acompanhe.
– Graças a Deus, terminou agora vou me atracar nas bolitas
com o Dôle, hoje eu rapelo aquele fdp.