07/12/2015 16h17 – Atualizado em 07/12/2015 16h17
Conversa nada fiada
Por Odil Puques
São quatro irmãs que dominam todas as rezas familiares e das comunidades onde vivem. Muito devotas, herdaram dos antepassados a religiosidade e a esperança de que todas as mazelas do mundo se resolvem através da oração.
Pedem pela paz mundial, pelo emprego de um filho, pelo casamento da outra, para que a tempestade se arrefeça e especialmente pela saúde dos milhares dos seus. Basta uma gripe de um sobrinho distante que lá estão elas ajoelhadas em frente aos santos de devoção pedindo e se comprometendo com os mais variados sacrifícios que vão desde deixar de consumir a comida predileta – quase sempre a carne vermelha – até comparecer ao local onde o santo ou a santa repousa.
Por serem de origem guarani, todas as direções apontam para o santuário da virgem que as representa. Nesses dias em que se comemora o dia D’ela, rezam durante nove dias para manter a tradição da mãe. Há entre elas um acordo tácito, de quem comanda o rosário e puxa o primeiro dos mistérios seguida sucessivamente pelas outras. Trata-se de uma regra de ouro que todos da família já sabem desde os tempos idos e ninguém ousa quebrar.
De uma feita, uma incauta vizinha se precipitou e quando ouviu que no primeiro mistério se celebrava como a virgem foi saudada pelos anjos, desandou a puxar o painossoqueestaisnocéu. Pra quê? Todos prenderam a respiração e por breves, mas eternos momentos ninguém respondeu o opãonossodecadadia, a vizinha coitada, sentiu nos oito olhares fulminantes que havia feito algo de errado, sem saber exatamente o quê.
No 8 de dezembro, o dia D’ela, se reúnem para comer o que os avós comiam, se ajudam mutuamente nas tarefas enquanto ressoam os cantares. Aproveitam para pagar o prometido e fazer novos compromissos, afinal o mundo é feito desafios e eles ficam bem mais fáceis de serem vencidos com a ajuda de uma senhora que aprendemos a chamar de nossa. Longe da discussão teológica sobre o real papel da genitora daquele que veio para salvar toda a humanidade, elas estão a postos, para pedir e influenciar na vida e na natureza. Enquanto as forças permitirem estarão por lá, a rogar por todos nós.
O autor é advogado e escreve semanalmente nesta coluna.
